29/9/97 – 4:00
Já não tenho febre, já toda a dor de cabeça e do corpo em geral me passou. E não tomei nenhum medicamento! Dirão as pessoas sensatas que não era muita a febre e que a cura se deve a uma longa viagem que eu fiz de bicicleta, de tarde, para ir ao teatro. E se alguém me perguntasse como fiquei bom assim tão depressa, era certamente isto mesmo que eu responderia. A razão da cura guardo-a eu muito dentro de mim, como se fosse um tesouro só meu. De facto, o não ter encontrado, de noite, o medicamento, tê-lo tido nas mãos ao fim da manhã, doer-me a cabeça e não ter tomado; a ida ao teatro – tudo isto são Sinais da Bondade do meu Senhor que, evitando o remédio da Cidade, me curou de forma saudável.
Mas não tenho a certeza de que faça bem em não proclamar perante toda a gente esta minha Fé. Acontece-me isto sempre: sou levado a calar perante o mundo este meu segredo. Porquê?
– Diz-me Tu, Mestre, se faço bem. Esclarece-me sobre este ponto.
– Diz-Me então porque não comunicas às pessoas essa tua Fé.
– Porque sei que elas não vão acreditar, que se vão rir de mim.
– É por cobardia que não falas?
– Cheguei a pensar que era, mas sinto cada vez mais que não é.
– Porquê?
– Porque se eu tivesse a certeza de que Tu querias que eu falasse, eu falava.
– E achas que Eu não quero que tu fales?
– Acho. Tu disseste que não se devia dar o que é santo aos cães, nem atirar pérolas para a frente dos porcos.
– É então por teres em grande apreço a tua Fé que a não comunicas?
– Acho que sim: a Fé é o meu maior tesouro.
– Não te lembras de ter ficado escrito, logo no início destes Diálogos, que Eu te quero para dar?
– Lembro.
– Porque não dás então o que te dou?
– Não sei… Eu ardo na ânsia de poder dar às pessoas o que Tu me dás… Talvez porque ainda não tenha chegado a hora.
– E a hora, como a reconhecerás?
– Hei-de senti-la dentro de mim.
– Como?
– Hei-de senti-la como um imperativo Teu.
– Passarás a dar o santo aos cães e as pérolas a porcos?
– Ia responder que não, mas sinto que vais correr esse risco, quando chegar a hora.
– Porquê?
– Porque Tu não seleccionas os Teus ouvintes: falas para todos aqueles que acorrem a Ti. E alguns hão-de vir com más intenções…
– Alguém acorre a ti, para te ouvir?
– Não. Ninguém.
– Sabes porquê?
– Porque eu não sou célebre.
– E é preciso seres célebre para que os homens acorram a ti?
– É. Não vejo outra forma. Contigo foi exactamente assim. Não consta que alguém acorresse a Ti antes de ficares célebre.
– E eu fiquei célebre porquê?
– Pelos milagres que fazias.
– Que tipo de milagres?
– Começou pelos milagres físicos, visíveis, e passou depois para os milagres interiores – a conversão dos corações. Por sua vez estes milagres invisíveis, os mais importantes, continuavam a ser confirmados por prodigiosos sinais exteriores.
– Mas tudo acabou com a Cruz, não?
– Sim. Se não fosse a Ressurreição, terias terminado num completo fracasso e não restaria de Ti a mínima memória.
– Que fez a Minha Ressurreição?
– Alvoroçou os corações.
– E esse alvoroço o que fez?
– Uniu fortemente, de novo, todos os Teus discípulos.
– Só os Meus discípulos?
– Sim. E talvez alguns amigos íntimos deles.
– Era então ainda só um segredo que guardavam entre eles!?
– Era.
– Porquê?
– Porque era um assombro grande demais para ser atirado a…porcos.
– Traduz “porcos”.
– Incrédulos. Insensíveis. Se eles dissessem publicamente que Tu ressuscitaste, todos haviam de se lhes rir na cara.
– Mas não foi isso exactamente o que aconteceu? Eles não passaram a proclamar desassombradamente a Minha Ressurreição?
– Passaram. Mas só quando chegou a Hora.
– E a Hora, o que foi?
– O Pentecostes. A Hora é a Vinda do Espírito. Hoje também.
São 6:16!?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário