21/2/01 - 4:58
É enorme a pressão para que desista. Está tudo esgotado; tudo o que fizeres será uma disfarçada repetição do que já foi feito - assim diz a voz do senso comum.
Mas eu não desisto. E avanço com aquilo que tenho: como agora o coração me aparece bloqueado dentro do peito, eu avanço com a razão e tento argumentar… A única hipótese de não haver mais nada para dizer é que Deus não exista e que a Natureza seja uma máquina inexorável que caprichosamente faz nascer as pessoas para as destruir - assim raciocino eu. Mas se Deus existe, Ele só pode ser inesgotável. A hipótese de Ele nos ter criado e nos ter abandonado depois ao nosso destino, é absurda: equivaleria à primeira e transformaria Deus num monstro sádico…
Do que eu desisto é de raciocinar. Gostaria que as pessoas tivessem captado o que senti ao pôr a última hipótese: o simples facto de me referir a Deus daquela maneira, ainda que como pura hipótese, doeu-me como se me tivessem rasgado o coração. O puro raciocínio em si mesmo ofende Deus. E julgo que não conseguirei explicar porquê… É como se Ele estivesse diante de mim e eu O desprezasse e me pusesse a fabricar eu próprio um deus, à minha maneira… Isto é, Deus teria que Se reduzir à minha própria capacidade de entender! Por isso a própria actividade mental de explicar Deus revela uma horrorosa atitude de desprezo para com a Presença de Deus.
Mas eu estou verdadeiramente destroçado. Era só uma tentativa de me segurar na minha Fé, servindo-me daquilo que julgava ter, naquele momento: alguma capacidade de raciocinar. Acontecia, porém, que durante o próprio raciocínio, que pouco tempo durou, eu estava vendo simultaneamente uma série de buracos lógicos e portanto uma série de possibilidades de me contradizer a mim próprio. Era como se eu estivesse levantando uma construção que ao mesmo tempo se fosse esbarrondando. Também, portanto, aquilo que eu julgava ter, não o tenho, de facto, porque é um instrumento que destrói sistematicamente aquilo que vai construindo!
Não sei porque me deu para isto hoje. Mas sinto que esta dolorosa espera continua fecunda: ela está-me aproximando cada vez mais de Deus, que desde sempre me seduziu e de Quem acabei por me enamorar. Dir-se-á que os momentos que atravesso são tudo, menos os momentos próprios de uma paixão. Mas vede como continuo amarrado a Deus, sentindo até, na minha frieza, aquela forte dor de que falei há pouco: ela manifesta que eu não suporto tocar com mãos brutas no meu Amado. Vi que não há meras hipóteses: uma hipótese bruta é uma bruteza autêntica que eu efectivamente pratico.
São 7:07!
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