– 9:31
Estes Sinais só me dizem que, embora eu não O sinta, Deus me tem literalmente submergido na Sua Transcendência! Que eu não estou rebaixando Deus; é Ele que me está elevando! Descendo até nós como desceu, Deus encantou-nos o coração e assim nos seduziu; se Lhe não opusermos resistência, somos absorvidos n’Ele. Mas – é este um assombroso Mistério! – não perdemos a nossa personalidade: recuperamo-la!
Releio o texto da vigília e só agora é completo o meu encanto: Deus também Se cansa! Deus é tão homem como eu! Só agora contemplo a imagem registada no final da vigília: Deus dorme no meu colo! Dir-se-á que tenho uma imaginação fértil… E com isto quer-se dizer que a imaginação é um terreno que produz imagens. Certamente que sim. Mas quem é o proprietário do terreno? E a quem pertencem as sementes lá semeadas e que nele germinam? Ah esta nossa mania de retirar a Deus o que Lhe pertence! Ora eu comparo a minha imaginação com a de Jesus e a d’Ele fica a perder de vista. Quantas imagens produziu a imaginação de Jesus! Vejam-se as metáforas e as comparações e as alegorias! Vejam-se as parábolas! Se a nossa imaginação for inteiramente propriedade de Deus e se as sementes lá lançadas Lhe pertencerem também, a quem pertencem as árvores e os frutos? O caso da imagem da vigília é paradigmático: eu sentia Jesus também cansado; eu senti um grande desejo de O ajudar a levar a carga dos nossos pecados, eu senti que Ele aceitou a minha oferta e a minha Fé – uma e outra Dom Seu, claro! – e assim Se me colocou muito próximo, assim Se me fez Irmão mais cansado do que eu, mas disfarçando o Seu cansaço por meu amor.
E a Sua imaginação produziu aquela imagem!
O mesmo se passa com os Escritos: eu sinto e o meu sentir são sementes; a imaginação fá-las germinar em signos linguísticos ou imagens verbais. Se o Diabo me não tiver feito proprietário da minha imaginação, se a minha imaginação, no momento em que escrevo, estiver totalmente na posse do seu Deus; se o meu sentir forem sementes de Deus, as palavras destes Escritos serão palavras de Deus!
– Desculpa, Jesus. Já acordaste? Estás melhor agora? Olha: eu acabo de dizer uma asneira enquanto dormias, fui inimigo semeando joio na Tua seara, ou aquilo é verdade Tua, é puro trigo Teu?
– Não vejo joio nenhum semeado nesta Minha seara. Sossega, Salomão. Eu, mesmo a dormir, tenho o Inimigo controlado! Descansaste, também tu?
– O meu descanso é saber-Te meu Amigo e meu Irmão.
– Ias a escrever “… e meu Deus”. Porque não escreveste?
– Porque Deus já toda a gente sabe que és!
– Muita gente duvida e nega que Eu seja Deus. Tu não duvidas?
– Eu? Não sabes que nunca duvidei? O que eu não sabia é que Tu, meu Deus, podes ser assim tão Amigo, tão Irmão! Nunca imaginei que Te deixasses dormir no meu colo!
– Imaginação, Salomão! Pura imaginação!…
Jesus disse isto com uma expressão tão marota, tão gozona, tão divertida, tão querida!…
– Olha, Jesus: gosto tanto de Ti, que não sei que Te faça! Não deixes nunca o Demónio sujar a minha imaginação. Não deixes nunca o Inimigo semear lá joio.
– Ai dele!
– Quê, Jesus? Disseste mesmo assim?
– Não! Foi imaginação tua!
Outra vez a mesma expressão malandra, feliz. E continua sorrindo o mesmo sorriso de encantadora cumplicidade. Porque não há-de ser sempre assim?
– Pronto, Mestre. Vamos?
– Se achas que aguentas…
– Aguento tudo, se for Contigo.
– Então vamos.
– Desculpa: ainda é muito longe a Terra Verde?
– Gira expressão!…
– Já vi que não queres responder. Tudo bem, Chefe. Vamos?
– Cântico dos Cânticos, cinco, treze-dezasseis.
– E se não há dezasseis versículos no capítulo cinco?
– Acrescenta-lhos tu.
– E posso acrescentar assim a Escritura?
– Eu estou sempre escrevendo.
– Mas a Escritura…
– Que tem a Escritura?
– A Escritura…
– Que se passa?
– Não sei como hei-de dizer… A mim disseram-me que a Revelação terminou com a morte do último apóstolo…
– Disseram-te muitas coisas certas e muitas outras imperfeitas.
– Neste caso, relativamente à Escritura…
– Sim…?
– Tu sabes que isto da Escritura e da Revelação…
– Que vim trazer Eu de novo?
– Só o Mandamento Novo, que Tu chamaste repetidamente “o Meu Mandamento”.
– Enuncia o Meu Mandamento.
– “Que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei”.
– Destaca o que há de novo neste Mandamento.
– “Como Eu vos amei”.
– Isso. Sublinhado. É esta a única Coisa Nova do Novo Testamento.
– Tudo o mais já estava revelado?
– O Pai só não tinha ainda revelado até que ponto poderia ir o Seu Amor.
– E… e não é tudo, pois não?
– É. Em verdade, é tudo.
– Então a Novidade do Teu Mandamento não está no grau em que nós nos podemos amar uns aos outros?
– Não. Está no grau em que o Pai ama.
– Então o amor ao próximo…
– Deverá revelar o grau em que o Pai vos ama!
– Então tudo o mais… já estava na Escritura?
– Já.
– Então o Novo Testamento…
– Acrescenta o Mandamento Novo e ilumina todo o Testamento Antigo, apenas.
– Apenas?
– Apenas e basta. Porque é Tudo!
– Então…
Neste momento fui interrompido pela chegada do meu neto e das minhas filhas. São 12:23. Quis continuar o diálogo, mas senti que o não deveria fazer. Por outras palavras: vi na chegada do meu neto e das minhas filhas um Sinal de que deveria acabar ali. Mas a chegada deles naquele momento não foi um nítido acaso? – perguntarão. E eu respondo: Não; foi um caso nítido de manifestação da Vontade de Deus!
Mas com tudo isto já me esqueci da citação que o Senhor me indicou. Vou procurá-la:
Cant 5, 13-16
O capítulo 5 termina precisamente no versículo 16! É a Esposa que fala. E duas dificuldades se me apresentam, de início. Uma delas: quem é, aqui, a Esposa? E a outra: porque me indicou Jesus esta fala apenas a partir do v. 13? É que, à pergunta do Coro: “Que tem o teu amado mais que os outros?”, a Esposa faz dele uma descrição pormenorizada. Ora esta descrição começa no v. 10. Porque eliminou Jesus da descrição a cabeça, as “madeixas” e os olhos? Tenho que ir almoçar. Espero que durante o dia o Mestre me conduza à apreensão da Sua Mensagem aqui escondida, sem desvios.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário