31/12/01 - 5:13
Em vários momentos da minha vida aconteceu uma mudança brusca de rumo, em que um muro parece ter desabado à minha frente e aberto um horizonte inesperado e muito vasto, que eu passei a percorrer, excitado pela novidade, até que, activadas todas as possibilidades desse território, um novo se abre de repente diante do meu coração inconformado com um qualquer horizonte, incapaz de se manter dentro de um qualquer limite.
Verifico agora que tais mudanças de rumo não significam desvios do caminho que desde sempre a bússola da minha Alma apontou, mas momentos fortes de surpresa do próprio Caminho, que nada despreza de cada passo que dá, de cada extensão que se espraia pelas suas margens. Era preciso passar por tudo isto, mesmo que aparentemente o rumo siga em direcção contrária ao objectivo que persigo. E uma coisa Jesus assim me ensinou: cada um deve viver o seu troço de mundo, aquele justamente que o seu carisma comporta, antes de entrar na Luz eterna - ou nas perpétuas Trevas.
Sim, tanto os que se salvam como os que se condenam, terão que atravessar este mundo, por que todos somos solidariamente responsáveis pela sua existência. É como se entre nós e o Céu tivéssemos interposto esta interminável extensão de sucata. E uns agarram-se a ela como território seu, esgotando em refazer esta paisagem todas as potencialidades do seu carisma; outros caminham pelo meio destes trastes mortos, reconhecendo-os como obra sua, cheia do seu suor e das suas lágrimas, interrogando-se como poderão limpar agora a paisagem de tanto lixo, com um misto de ternura por tanto suor e tanta lágrima vertida no tempo da sua ignorância, de impotência perante o montão de lixo que parece inamovível e de ânsia de que tudo volte aqui a ser como era, se possível mais belo ainda.
Foi assim que eu percorri territórios vários e inesperados, abertos de improviso diante dos meus pés, sempre bem assentes neste mundo, sentindo-lhe toda a aspereza, enquanto o coração se enchia de saudades do caminho fofo de verdura, de que a minha Alma conservava a memória. Até que de repente olhei o chão e vi a nossa obra comum transformada mesmo em sucata esmagando a verdura fofa em toda a extensão do meu horizonte - o passado e o futuro. Reconheci que foi bom ter passado por onde passei e é bom permanecer aqui, para comunicar a todos quantos puder esta minha visão, até que ela apareça como a Verdade acerca do nosso sofrimento. Espero deste modo juntar uma multidão que comigo sinta ternura pelo suor e pelas lágrimas da nossa ignorância e ao mesmo tempo dissolva a nossa impotência colectiva num entusiasmo louco de limpar o Planeta Azul.
É aqui que eu estou, agora. Tarda-me o tempo em que os corações se abram a esta minha Visão e a esta minha tão sofrida Esperança. Sei que vejo a Verdade e dói-me que as pessoas a não queiram receber. E nesta tensão espero que de novo um muro desabe diante de mim, abrindo-me um horizonte, agora infinito e virgem, invadido em avalanche por essa incontável multidão. Sei que esta Visão se concretizará, mesmo que só depois de eu partir deste mundo.
São 7:49!
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