24/12/01 - 2:16
Roubaram-me ontem, em pleno dia, o automóvel, aqui estacionado em frente de casa. Muita gente teve já o carro roubado, com maior prejuízo do que o meu: o carro não é muito valioso e eu não o uso muitas vezes. Mas tudo na minha vida está adquirindo um misterioso sentido e unindo-se numa Ordem nova: agora já não digo que foi simplesmente um azar que me aconteceu, mas vejo aqui uma intencionalidade perversa de alguém apostado em me multiplicar os problemas e as dores e também isto inserido numa estratégia determinada, com causas e finalidades definidas. Enfim, o acaso, na minha vida, já não existe.
- Conversa comigo, Maria, sobre este meu momento. Eu queria entendê-lo.
- Vamos conversar, sim. Cada momento, na tua vida, tem um sentido que é necessário viver como uma Dádiva do Céu.
- Tudo o que me acontece é uma dádiva?
- É.
- E, portanto, um bem!?
- É.
- Devo então sentir-me feliz!?
- Ninguém é feliz por dever; a felicidade só é verdadeira quando nasce no coração, espontaneamente, como uma planta.
- Eu deveria sentir-me feliz com este roubo que me fizeram?
- Já te disse que não há deveres no Reino que procuras e onde desejas viver.
- Então se não sinto felicidade pelo que me aconteceu, é porque não vivo ainda nesse Reino!?
- Pobre menino! É claro que não vives nesse Reino que há tanto tempo procuras: lá nem sequer há carros, muito menos roubos.
- Mas assim, como se pode entender o que dizes? Para eu sentir tudo quanto me acontece, mesmo uma grande dor, como uma dádiva, não é preciso viver já nesse Reino onde tanto quero viver? Não há aqui, neste mundo, qualquer possibilidade de alguém se sentir espontaneamente feliz com um mal que lhe acontece. Um mal é sempre um mal.
- No Reino dos Céus também é assim; um mal é sempre um mal.
- O que é que é então diferente, uma vez que, no Reino dos Céus, de um mal pode nascer a felicidade?
- É que, para quem deseja ardentemente o Reino dos Céus, um mal transforma-se num remédio que, continuando a ser amargo, cura.
- Portanto quando algum mal me acontece, isto é, no momento em que tomo o remédio amargo, o que eu naturalmente sinto não pode ser outra coisa senão o amargor do remédio!?
- Exactamente.
- Portanto a felicidade, estando embora associada ao remédio, só a posso sentir em perspectiva, em esperança!?
- Exactamente.
- Então trata-se de uma felicidade a prazo!
- Não. A expressão que tu usaste é muito rude. Tu sabes que o Reino dos Céus desceu às dores todas do mundo. Quem nele vive em esperança, já o possui. Tu sabes que a Esperança é uma força: quem a possui, possui uma força e não apenas a perspectiva de a possuir.
- Então, neste mundo, a nossa felicidade reside toda na Esperança!
- Sim. Reside nessa colossal Força, sempre actuante em cada momento.
- São 5:17!
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário