14/8/06 — 3:59 — Rossão
— Maria, abençoa tudo o que me acontece… Poderá esta minha actual vida parada e impotente ter tanta força como um testemunho empolgado que provoque a conversão de milhares de pessoas de uma só vez?
— E quando deres esse tal testemunho, donde achas que terá vindo a sua força e a sua eficácia?
— Destes momentos de imobilidade e impotência?
— Donde vinha a Jesus a força e eficácia do Seu testemunho público?
— Daqueles trinta anos de silêncio, de imobilidade e de impotência?
— Donde vem à árvore a espectacular força de uma primavera?
— Do silêncio, da imobilidade e da impotência do Inverno?
— Porque perguntas ainda? Não sabes que a Ressurreição e o Pentecostes foram só consequências naturais da longa, lenta e dolorosa Incarnação de Deus na imobilidade e na impotência da vida que o homem fabricou?
— Saber, eu sei. Mas custa tanto manter fechados e calados no peito todos os tesouros que do Céu recebi…
— Ah recebeste? Assim tantos tesouros? Quando?
— Tens razão, como sempre: foi neste tempo parado e impotente do Deserto.
— Quanto tempo?
— Doze anos. Ou talvez a minha vida toda.
— Tinhas recebido muitos tesouros mesmo antes de teres encontrado pessoalmente Jesus, há doze anos?
— Sinto agora que foi um tempo extraordinariamente fecundo, justamente pelas tentativas sempre frustradas de mudar este mundo.
— Onde está o grande tesouro desse tempo?
— No conhecimento directo deste mundo, da sua força destruidora, da sua impotência para se salvar.
— Mas não foi nesse tempo que tomaste consciência de tudo isso !?
— Não; foi justamente ao longo destes doze anos de caminhada no Deserto Convosco, os meus Amigos do Céu.
— Vês? Os acontecimentos já estão em marcha há muito tempo quando tomamos consciência deles e mais ainda quando se manifestam.
— É verdade! Ontem de repente dei comigo a pensar que o Regresso de Jesus exigiria justamente este acumular de sementes nos celeiros e de água nas barragens, para que, quando a Hora chegar, tudo aconteça com o fulgor e a rapidez de uma Primavera nunca vista.
— Tem em conta que se trata, conforme tu dizes, do maior Acontecimento de toda a História. Não admira, portanto, que a sua preparação seja a mais dilatada de sempre e até proporcionalmente a mais silenciosa relativamente à grandeza do que vai acontecer.
— Ah, Maria, está-me custando tanto escrever este texto… Parece que só repito lugares-comuns…
— E porque o escreves então? Poderias escrever muito menos, ou mesmo não escrever nada…
— É que não consigo deixar de expor o que me vai na Alma, seja qual for o momento que atravesse. Foi isto que Jesus me pediu.
— Mesmo que seja repetindo lugares-comuns?
— Pois… Talvez desta forma eu esteja assumindo mais um elemento do nosso Deserto: o lugar-comum, donde já toda a Novidade desapareceu…
São 6:41!
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