13/8/06 — 5:31 — Rossão
— Maria, diz-me: ficar sempre assim à espera de impulsos interiores para fazer as coisas é o caminho certo?
— Tens já desenhada no espírito uma objecção muito grande a uma resposta afirmativa, não tens?
— Pois… Se eu disser que nada devemos fazer contrariados, respondem-me logo que uma grande parte dos homens deixaria de trabalhar.
— E não é uma objecção lúcida e válida?
— Sim, é uma objecção sensata. Ela tem em conta a realidade em que vivemos: grande parte dos nossos actos não são desejados; são-nos impostos sob uma qualquer ameaça.
— Por exemplo?
— Se não trabalhares, não comes.
— Então as pessoas vivem continuamente chantageadas pelas exigências da vida!?
— É verdade: a maior parte dos nossos actos são forçados; é exercida sobre nós, vinda de fora, uma contínua violência.
— Então está dada a resposta à tua questão: agir sempre e só em obediência a impulsos interiores é impossível e portanto não seria o caminho certo, já que desorganizaria toda a vida e provocaria contínuas frustrações.
— Assim é, se eu partir do princípio de que o Sistema em que vivo é intocável.
— Tens então a consciência de que obedecer exclusivamente a impulsos interiores põe todo o Sistema em causa!?
— Tenho. Sem dúvida que a Ordem estabelecida seria toda arrasada.
— Então a Ordem em que a vida decorre é o grande obstáculo à realização dos desejos mais profundos e genuínos das pessoas!?
— Claramente: ela funda-se e mantém-se com leis que uniformizam e uniformizando destroem toda a variedade que necessariamente se manifestaria se cada um obedecesse exclusivamente aos seus desejos.
— Mas tu, segundo dizes, nunca expões teorias; tu falas do que vives. Diz então o que te levou a colocar aquela questão.
— Foi, mais uma vez, a situação em que vivo: fora das estritas obrigações que a Cidade me impõe, eu vivo à espera de desejar para avançar para uma qualquer acção, por mais importante e nobre que todos a considerem, por mais que todos condenem esta minha atitude.
— E não tens medo de seres tocado simplesmente pela preguiça, de cair no desleixo?
— Tenho. Mas eu corro todos os riscos para que a Liberdade volte à terra.
São 7:44!
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