Somos, cada um de nós, um Mistério imenso. Se fizermos silêncio dentro
de nós, verificaremos que somos essencialmente…invisíveis. É aí, nessas
complexas regiões invisíveis de que somos feitos, que mora o comando de todo o
nosso ser - visível e invisível.
12/9/96 – 2:50
– Tenho dois
assuntos aqui dentro, sobre os quais me parece quereres conversar, Mestre...
– Porque disseste
“aqui dentro”?
– Porque não sei
identificar o sítio onde os tenho.
– Diz de outras
maneiras possíveis.
– No espírito; na
cabeça; no coração.
– Porque
hesitaste em escrever “na alma”?
– Não sei: a alma
parece-me funda demais para ter assuntos
dentro. Os assuntos, cá para nós, são mais coisas da cabeça.
– Porquê da
cabeça?
– Porque assuntos
são coisas para “tratar” com o raciocínio e...
– O raciocínio
não é “fundo”?
– Não o sinto
como tal.
– “Fundo”, então,
que quer dizer?
– Íntimo. O que
há de mais nosso. O que de mais importante nós possuímos. O essencial de nós.
– E de que consta
o essencial?
– De algo intransmissível.
– Consegues dizer
de que é feito esse “algo intransmissível”? Tenta apresentar algumas
características.
– Silêncio tenso.
– Mais nada?
– É difícil...
Parece estar ali tudo o que nós
somos... Agora que me levaste a examinar este “fundo”, ele está mexendo comigo
de forma inesperada.
– Tenta exprimir
o que sentes.
– Este “fundo”
tem um poder enorme, concentrado, tenso, como se tivesse que fazer muita força
sobre si próprio para ir saindo de forma harmoniosa, para não explodir de uma
só vez.
– Ao sair, sai o
quê?
– Não sei...
Fogo? Luz? Vida? Muitas cores? Toda a substância de que é feita a terra, o
Universo?... Não sei... Parece-me que está ali tudo o que é possível ser. Há também algo de negrume neste
“fundo”, um misterioso negrume, como se tivesse as suas raízes na escuridão,
num insondável abismo. O “fundo” é sobretudo uma gigantesca tensão, como se todo o Universo ali
estivesse, em possibilidade. E no
entanto é um “fundo” nosso, individual, pessoal, intransmissível.
– Como viste isto
tudo?
– Sentindo-o.
Estou-o vivendo ainda, empolgado. Sinto que a emoção não é maior, porque Tu não
deixas; de contrário, não poderia escrever.
– Que vamos então
agora chamar a esse “fundo”?
– Alma. É o que
me dá mais jeito chamar-lhe.
– Tem corpo, essa
“alma”?
– Tem tudo. É
como se todo o nosso ser dali viesse. Todo o que nós hoje chamamos com nomes
como físico, biológico, psíquico, mental, intelectual, espiritual...
– Também mental,
intelectual...?
– Sim. Mas essas
coisas, vindas de lá, da “alma”, são tão quente e vivas como as emoções.
– Agora queria
que Me dissesses que diferença há ente “alma” e “coração”.
– Já estava à
espera dessa, Mestre. E não sabia responder. Mas agora, no preciso instante em
que escrevia a Tua pergunta, houve uma vibração forte em mim, como um impulso
de amor Teu e de alegria minha: eu acabara de “ver”, instantaneamente, a
diferença!
– Achas que a
vais exprimir com clareza?
– Não me estou a
preocupar muito com isso: vou dar-Te tudo o que tenho, para que Tu próprio aqui
deixes ficar escrita, com toda a clareza possível à minha carne, a resposta
àquela pergunta.
– Escreve-a,
então.
– O coração é a
Força que, a partir da nossa alma, comanda todo o nosso desenvolvimento. O
coração é o Princípio ordenador e vivificador de cada nova concretização das
potencialidades da alma. O nosso coração é o Sopro da Vida que, no instante em
que entrou em nós, nos fez alma, isto é, mistério.
– Porque não
escreveste Mistério com maiúscula?
– Vou escrever
agora: a nossa alma, cada alma, é um Mistério do Grande e Absoluto Mistério,
que é Deus.
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