Adorar é uma das palavras mais gastas e vulgarizadas do nosso dia-a-dia.
Tanto adoramos uma pessoa, como adoramos chocolate, como adoramos passear, como
adoramos não fazer nada. Diz no entanto a Teologia que adorar…só a Deus! Mas
não diz seguramente que é adorar aquilo que se passa no diálogo seguinte, em
que Jesus diz “nós” como diz um amigo íntimo. Ora foi aqui, neste convívio de
amigos, que eu soube o que é mesmo adorar…Deus.
3/9/96 – 0:55
– Só há uma hora
me deitei, Mestre! Para que queres Tu esta violência?
– Para acabar a
moldagem do teu corpo.
– O meu corpo só
quer dormir.
– Se quiseres, eu
suspendo a obra por uns momentos.
– Não! Não quero
que suspendas nada que seja Vontade Tua. Mas não podes fazer a Tua obra durante
o meu sono?
– Podia. Mas
quero que todo o material Me seja dado por ti.
– Então paras
enquanto estou dormindo?
– No teu sono
contemplo a obra feita e fico feliz, muito feliz.
– Então
praticamente só descansas em média umas três horas por noite!...
– Olha:
oferece-Me também o tempo em que dormes...
– Não o tens já?
É todo Teu. Para que o queres?
– Para em ti
contemplar a Minha Igreja-Bebé dormindo tranquila na Minha Paz.
– A ânsia maior
do Teu Coração é agora ver a Tua Menina nascida... segurá-La nos braços, não é?
– É. Sê a imagem
da Minha Pequenina, Salomão, Minha querida Testemunha da Paz. Deixa-Me senti-La
crescer! Deixa-Me contemplá-La em ti!
– Ah, Mestre! E
eu sou digno disso?
– Não te
preocupes nunca com a tua dignidade quando estás nas Minhas Mãos; caso
contrário não serias um instrumento dócil. Deixa-Me apenas usar-te conforme o
Meu desejo de cada momento.
– Deixa-me dizer,
Mestre: senti agora, perante aquelas Tuas palavras, que tanto a minha como a
Tua dignidade foram feridas... É deformação minha, não é?
– Explica porque
sentiste a nossa dignidade ferida.
– “Nossa”,
Mestre? Dizendo assim, confundes-me mais ainda...
– Explica,
explica o que te pedi.
– A minha
dignidade, porque me estarias usando, como se eu fosse um objecto; a Tua,
porque Te estarias assemelhando a um senhor dos nossos, autoritário e
caprichoso. Desculpa, Mestre! Apetece-me rasgar esta folha!
– E porque não a
rasgas?
– Nunca rasgaria
nenhuma destas folhas!
– Porque não?
– Nem sei bem
porquê... É um respeito que tenho por elas... É como se, rasgando-as, Te
ferisse a Ti... Seria uma falta grave de reverência para com a Tua Palavra que,
desde que cai à terra, não volta a Ti sem ter produzido o seu fruto.
– E a nossa
dignidade, Salomão, a tua e a Minha? Que será daquilo que aqui ficou escrito
sobre ela?
– Jesus, meu
Amigo, meu inexplicável Amor: Tu és a Novidade permanente e viva e nós
assentamos toda a nossa construção sobre pedras mortas e dentro delas vivemos
morrendo, porque quisemos ser deuses. Por isso está assim deformada a nossa
visão e o nosso sentir. Por isso não sabemos agora que o mais pequeno Capricho
Teu, se To deixássemos satisfazer, libertaria a Humanidade inteira para a
felicidade eterna! Por isso nem sequer nos lembramos já de que somos tão
pequenininhos! Tão pequenininhos, que só por puro Capricho Deus poderia
ligar-nos alguma importância. Mas tal Amor encerrou esse puro Capricho, que por
ele Deus-Pai e Deus-Espírito Santo Te pediram a Ti, Deus-Verbo omnipotente que
Te fizesses tão minúsculo como o homem e por ele morresses! Só tenho pena, meu
Senhor, de as palavras me não chegarem para Te dizer como me sinto feliz por
ser o objecto dos Teus Caprichos!
– Sei que tens
ainda uma sombra no teu coração. Exprime-a, Meu amigo.
– Tal é a aridez
deste Deserto, tal é o gelo que me envolve o coração, que neste momento me
senti mal ao escrever que sou feliz.
– Então porque o
escreveste?
– Porque é
verdade. Mas é uma verdade enterrada que, quando irromper das entranhas da
terra, se me afigura que iluminará o mundo inteiro!
– Amo-te muito,
companheiro.
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