Passo por momentos de dúvida muito dolorosos. Mas é a dúvida que mais
nos agarra ao nosso Amigo Deus. Por isso dúvidas tiveram e têm todos os
Profetas - Jesus também, conforme Ele próprio me
revelou. Porque, como a Sua Mãe um dia me disse, “a Fé sem dúvidas é morta” (a
vigília aqui referida é aquela em que escrevi a mensagem aqui postada ontem).
3/9/96 – 10:09
A vigília desta
noite foi talvez a mais difícil, até hoje. Julguei que teria que interromper a
escrita a meio, tal era a tensão dentro de mim! Uma tensão que me apanhava
todo, desde as energias físicas até à visão do espírito. Provinha ela de uma
luta feroz entre o desejo de estar vigilante e a pressão de todo o meu corpo
que me pedia descanso, entre o impulso da Verdade que me levava a afirmações
inauditas e uma terrível cercadura de aridez que me paralisava a vida, entre a
Fé no que escrevia e a voz da razão a falar-me de atrevimento, de presunção e
até de falsidade.
Invade-me nestas
alturas uma avassaladora sensação de impotência e de nulidade. Como se, na mais
absoluta escuridão, num troço do caminho inteiramente vazio de referências que
eu pudesse tactear, eu desse passos em frente, acreditando em que voltarei a
encalhar depois, não sei quando, no carreiro que venho seguindo.
Andar, para mim,
é continuar escrevendo. Dou um passo de três em três, de cinco em cinco, de dez
em dez minutos. E cada passo que assim dou é uma verdadeira ousadia. Por isso,
mesmo cercado de gelo, o coração está-me sempre activo, pedindo: Jesus,
ajuda-me; eu não sei para onde vou. Não me deixes escrever nada que Tu não
queiras. Então, muito lentamente, dou mais um passo, sempre mais um passo. É
então que me sinto no vazio completo e é tão forte a minha Fé como a minha
dúvida. Sou, pois, todo impotência e nulidade. E é aqui que Jesus toma completa
conta de mim, porque caminho. Apenas porque caminho. O Caminho é, em verdade,
nestes momentos, Ele mesmo, Ele apenas.
Não conheço
nenhum profeta que tivesse ousado o que eu ouso: atribuir a autoridade de Deus
à palavra que escreve, sem que ela lhe tivesse sido comunicada por autêntica
visão ou audição interior! Mas a mim Jesus mantém-me teimosamente neste meu
caminho. Chamou-me já Profeta da Graça. Chamou-me já, de várias maneiras,
Profeta da Fé. Visualizou em mim, numa palavra, a Sua grande Bem-aventurança de
Ressuscitado: “Felizes os que, sem terem visto, acreditaram” (Jo 20, 29). Nunca
eu próprio julguei isto possível: profeta verdadeiro, para mim, era apenas
aquele que recebia do Céu a Palavra ou qualquer Revelação por via directa:
vendo ou ouvindo distintamente. Por isso às vezes me chego a considerar um
monstro possuído de uma doentia ambição megalómana. E paro, sondando o fundo da
minha alma e o Alto infinito. Vem então sempre, a seguir a estes momentos, como
esta noite, o meu Companheiro desta Solidão com os Seus Sinais mudos, mas
eficazes, feito todo Ternura.
Sem comentários:
Enviar um comentário