Jesus
morreu sem que nem sequer os Apóstolos O tivessem entendido. Reunia multidões,
é certo, mas sabia que as Suas palavras eram retorcidas para servirem os
objectivos deles todos, e nunca os Seus. Pobre Jesus! Que imensa Solidão Ele
passou durante toda-toda a Sua vida!
30/8/96 – 2:30
– Estou tão frio,
tão só, Mestre.... Fui eu que Te fugi, ou está para acontecer qualquer coisa de
decisivo? Responde, Companheiro. Onde estás?
– Mais do que
nunca, no teu coração.
– Então porque
não és forte...?
– Eu sou forte,
em ti. Eu sou toda a tua Força.
– Então porque Te
não sinto? Tu sabes que eu não tenho mais ninguém. Meteste-me nuns caminhos tão
únicos, que me parece ter andado assim sozinho desde nascença. Vês que até
agora ninguém me seguiu? Tu ao menos tinhas a Tua Mãe, os Apóstolos...
– E uma grande
Solidão, dentro de Mim!
– Como??
– Sabes o que é
andar com amigos que Me não compreendem?
– Mas andavam Contigo,
interessavam-se pelo que dizias e fazias, estavam atentos aos Teus
ensinamentos, punham-Te questões... Tinhas ao menos um Pedro que intuía a Tua
missão, que era capaz de puxar pela espada para Te defender.
– E de Me negar,
ao fim de três anos de declarações de amor.
– Pobre Jesus!...
Está bem, mas olha: Tu, apesar de tudo, tinhas uma vida cheia: tinhas multidões
ouvindo-Te e os seus chefes odiando-Te... Eu nem isso tenho.
– E onde estavam
as multidões na Minha hora de morrer? Eu só via os homens da lei, em multidão,
e o seu ódio.
– Pois foi,
Jesus. Mas olha: Tu tinhas ao menos o João, a Madalena, com a sua ternura... Eu
só tenho o Snupi.
– E julgas maior
a satisfação que Me davam eles, do que a ti te dá o Snupi?
– Não era,
Mestre? Tanto sofrias Tu? Mas sempre tinhas a Tua Mãe para Te receber os
desabafos e para Te encorajar.
– E não viste como
Ela Me procurou no templo, sem ter entendido? E como Me olhava, apreensiva, no
redemoinho das multidões, sem entender?
– Mas tinhas
sempre o Teu Pai.
– Não Me tens Tu
a Mim? E julgas que Eu próprio entendi sempre os desígnios do Meu Pai?
– Não entendeste
sempre o que o Teu Pai queria de Ti?
– Não entendes tu
o que Eu quero de ti?
– Ah! Também tu
duvidavas dos processos, dos caminhos?
– Ah, Meu querido
companheiro, entende ao menos tu a Minha Incarnação.
– Eu sou ainda um
dos Teus apóstolos actuais que Te não entende, como naquele tempo?
– Tu és o Meu
Pedro, que Me não entende ainda.
– E Te vai ainda
negar? Ah, isso não o permitas, Mestre! Olha, vem cá, Jesus, senta-Te aqui só
um momento e diz-me: Tu sentiste-Te sempre assim sozinho durante toda a Tua
vida na terra, toda-toda?
– Não tens tu,
apesar de tudo, amigos sinceros?
– Poucos. E tenho
os meus irmãos, as minhas filhas...
– Entendem eles o
caminho que levas?
– Mal. Respeitam,
mas interrogam-se....
– Porque não confidencias
com eles tudo o que se passa contigo?
– Não estão
verdadeiramente interessados. Consideram estas coisas assunto privado. Não
teriam tempo, nem paciência, para me ouvir.
– Então tu que
fazes?
– Venho ter
Contigo.
– E daquilo que
conversamos, só daquilo que tens escrito quantas páginas são?
– Mais de três mil.
– E sabes quantas
páginas escrevi Eu, desde aquele tempo até hoje, páginas que ainda ninguém
entendeu?
– A Tua solidão
continua?
– É agora muito
maior! Quantos Judas Me estão traindo hoje! Quantos Pedros até hoje me negaram!
E já um deles se prepara, não só para Me negar, mas para Me trair sem
arrependimento!...
– Vês a frieza
com que eu escrevo estas coisas, Mestre? Eu não deveria chorar, à vista do que
me dizes? Porque permaneço assim indiferente às chagas do Teu Coração?
– A tua hora vai
chegar, não tarda. Mas por enquanto é ainda Deserto, não vês? Foste tu que
quiseste vir Comigo, lembras-te?
– Sim, Jesus, é
claro que lembro. E renovo agora, com mais entusiasmo ainda, o meu desejo de ir
até ao fim Contigo. Mas que queres? Sinto às vezes tanta necessidade de
desabafar... Não podes tornar-Te Tu ao menos mais real, mais vivo?
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