Foi abandonado no pequeno bosque atrás da minha casa. Tinha certamente
dono, porque trazia coleira com o nome escrito: Snupi. Adoptei-o. E
imediatamente surgiu entre nós uma forte afeição mútua. A partir daí, este cão,
arraçado de pastor alemão, passou a ensinar-me coisas impensáveis. Por isso às
vezes me pergunto se não poderei considerá-lo um profeta.
15/8/96 – 3:48 – Rossão
Estou com febre, de uma viagem que fiz ontem
ao Porto, só para estar com o Snupi e saber como o tratam. Nunca isto seria
possível ainda há bem pouco tempo: eu sentia uma certa repulsa por animais
domésticos, eu nunca parava para acariciar qualquer animal. Mas agora não mato
as aranhas que se criaram nesta casa por ficar longo tempo desabitada e pelo
Snupi sinto aquilo que nunca julguei fosse possível: uma verdadeira e muito
terna afeição, que me leva a aproveitar uma boleia para o Porto exclusivamente
para me encontrar com ele. Mas o mais espantoso é que há nesta afeição uma
correspondência mútua: eu nunca supus que um cão tivesse tal capacidade para me
seduzir. Vai esta afeição desde a mais subtil vibração do espírito ao mais puro
prazer sensual: eu deixo-me arranhar sem protestar e deixo-me lambuzar todo não
só sem a mínima repugnância, mas até com verdadeiro prazer. Todas as vezes que
em hora descontraída me encontro com o Snupi nos caminhos da bouça eu tenho
que, a seguir, tomar banho, não por mim, que me não sinto sujo, mas pelos
outros seres humanos, porque nos separou Satanás da Natureza através de roupas,
de casas e de leis de toda a espécie. Este intercâmbio sensual com a Natureza,
não com os animais apenas, mas também com as plantas e até com os rochedos ou
com a simples terra que pisamos na floresta, há muito que o perdemos e este
facto tornou-se para nós inesgotável fonte de desequilíbrios, mutilações,
sofrimento, enfim.
Hoje celebra a Igreja a Assunção da nossa
Irmã de Nazaré ao Céu no Seu ser pleno e uno, portanto o corpo também. E esta
Assunção revela o grande Dom do Senhor a toda a carne, conforme estava predito
nos Profetas: a ressurreição em corpo imortal e eternamente feliz. Com o Seu
Filho, na nossa Mãe celebramos as primícias da redenção do Prazer sensual!
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