O
poder religioso tentou fazer de Jesus aquilo que mais lhe convinha: um homem
com “classe”, mas inteiramente domesticado: sereno, falando calmo, gestos
medidos. Mas os Evangelhos dizem o contrário disto…
17/8/96 – 3:23
Não tenho conseguido dormir até agora: é o
barulho da festa aqui em frente e é sobretudo o Z. D. que me não deixa dormir:
ele dorme aqui diante de mim, como um anjo, mas o facto de ele se mexer e a
preocupação de que me não caia da cama abaixo, não me deixam dormir a mim.
Fiquei com ele para que a mãe pudesse sair com as irmãs…
– Não me queres falar através de todo este
acontecimento, Jesus?
– Qual é o teu sentimento dominante?
– Aborrecimento.
– Com quê?
– Nem sei… Com a festa, com a mãe do miúdo,
que nunca mais vem…
– E há verdadeira razão para estares
aborrecido?
– Estar há três horas a tentar dormir, sem o
ter conseguido, não é razão para um grande aborrecimento?
– É.
– Respondes assim sem mais nada?
– Porquê? Que outra coisa poderia responder?
– Que não tenho razão para estar aborrecido,
que isto só se deve à minha falta de paciência, sei lá…
– Não teres conseguido dormir até às três
horas da madrugada deveria pôr-te feliz?
– Não deveria, se eu fosse santo?
– Imaginas-Me sorrindo beatificamente quando
os fariseus Me insultavam? Imaginas o Meu Rosto sempre cheio de uma
imperturbável serenidade?
– Não. Nunca Te imaginei assim. Imaginei-Te
sempre um homem com reacções iguaizinhas às nossas, perfeitamente espontâneas,
adequadas às variadíssimas situações em que Te encontravas. Nunca foste, para
mim, um homem de gestos medidos. Sempre Te vi pondo cá fora, com absoluta
verdade, o que se passava dentro de Ti. Sempre Te vi muito nosso, Jesus, sempre
à nossa mais genuína imagem. Devo corrigir esta visão, Mestre?
– Eu te abençoo, Meu querido amigo, que assim
anunciaste o Mistério da Minha Incarnação!
Sem comentários:
Enviar um comentário