Alguém me transmitiu um dia isto: a sociedade divide-se em dois tipos de
pessoas: os opressores e aqueles que ainda o não conseguiram ser. E achei muito
certeira esta afirmação. É que o Pecado fez de todos nós opressores; aqueles
que aparentemente o não são é só porque outros não os deixam ser. Estão as
coisas assim desde sempre e, que saibamos, ainda ninguém as conseguiu mudar.
Porque será? Talvez porque tenhamos feito das palavras de Jesus letra morta, não?
1/8/96 – 4:36
– Que posso eu dizer, Mestre, do Mistério de
Deus e da Besta, que não tenha já dito?
– Vê em Efésios seis, cinco.
Ef 6, 5
– Em
Mestre, a
Tua Palavra é esta:
“Servos, obedecei aos vossos senhores
temporais, com temor e respeito, na simplicidade do vosso coração, como a
Cristo”.
Vamos parar um pouco, Companheiro, senta-Te
aqui nesta cama, deixa-me pôr o caderno sobre os Teus joelhos e fala, que eu tomo
nota… Que Mistério Teu está escondido naquelas palavras?
– Vê… Não queres tomar nota?
– O escravo deve obedecer ao seu senhor como
a Ti!?
– Sim. Não sabias já?
– Como acontece com toda a Tua Palavra, eu
já tinha visto, na prateleira, mas não tinha provado ainda…
– E que tal? Sabe-te bem?
– Muito. É um sabor novo, nunca antes
experimentado!
– Tenta descrevê-lo.
– Os Teus discípulos deverão fazer o
contrário dos mais destacados heróis da humanidade: enquanto estes levaram os
escravos à emancipação dos senhores, numa luta que conduziu à abolição da
escravatura, Tu vens pregar a obediência inteira do escravo ao seu senhor.
– “Inteira” que quer dizer?
– Como o Teu discípulo Te obedece a Ti: a
obediência do escravo deve ir até ao amor incondicional. É uma obediência sem
cálculo nem reservas aquela que Tu pregas aos escravos!
– Vim pregar a manutenção das estruturas da
escravidão?
– Vieste pregar o Amor. Apenas e sempre.
Tudo aquilo que disseste e fizeste está clamando através dos séculos apenas
isto: Amai! Amai com Eu amei!
– Eu fui escravo amando o meu Senhor?
– Pois foste, meu louco Filho de Deus, pois
foste! Não é concebível escravatura maior do que sujeitar-Se Deus à própria
ordem do Demónio!
– Como é a ordem do Demónio?
– Assenta no domínio de homens sobre outros
homens.
– E Eu não vim abolir essa ordem?
– Não.
– Não??
– Ninguém Te ouviu uma palavra que atiçasse
a revolta num escravo, que sublevasse um judeu contra o império romano. Tu vieste
sujeitar-Te à ordem opressora da Cidade de Satanás!
– Porquê? Sabes?
– Porque o Teu objectivo era revelar o Amor,
que o mundo desconhecia totalmente.
– Sim. E…?
– E começaste por ensinar uma coisa que
ninguém tinha visto: é preciso respeitar em absoluto a situação em que o outro
se encontra.
– Todos os outros? Os tiranos também?
– Sim. Os oprimidos, mas também os
opressores.
– E viste já qual é o motivo profundo?
– Ainda não, certamente, porque os Teus
motivos são sempre mais profundos. Mas escrevo aquele que vi: é que todos sem
excepção, são oprimidos.
– Sim, são todos oprimidos. Mais ainda,
quantas vezes, os opressores!
– Diz-nos de novo, Mestre, em que consiste a
verdadeira opressão.
– A única opressão consiste em oprimir. O contrário
da opressão é a Harmonia.
– Oprimir alguém é sinal de ausência de
liberdade?
– Sim. Só o prisioneiro oprime.
– Não sei se Te entendo já, Mestre: se o
escravo amar, torna-se um libertador?
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