Ninguém
faz a mais pequena ideia do estrago que o Pecado provocou na nossa grandeza
original de Imagens e Semelhanças de Deus. É de tal ordem a ruina, que ninguém senão
o próprio Deus nos poderá reconstruir.
16/4/96 – 4:53
Porque não saí da cama quando acordei, há
mais de uma hora (3:28)? Eu digo que não consegui. Noutros tempos
recriminava-me por não ter força de vontade. Mas hoje eu sei que também a força
de vontade é uma força em reconstrução e em reorientação e que, depois de
concluída a obra, estará inteiramente sob o comando de Deus, seu Construtor.
Não, não estou a culpar Deus da minha falta de força de vontade; estou a
reconhecer a minha deficiência, esta sim, obra minha – toda a estragação, toda
a ruína é em verdade minha. Então como faço? Cruzo os braços, deixo correr, já
que a obra não é minha? Não, é claro: desinteressar-me é que seria um grande
pecado, porque significaria desprezar o próprio Deus. É antes pelo contrário: a
minha própria reconstrução deverá tornar-se o desejo único da minha vida, porque
é o único Desejo de Deus a meu respeito. Como? E os outros? Ah, estivesse eu
reconstruído à pura Imagem de Deus e estaria eu sendo Luz de Deus iluminando os
caminhos dos outros, Remédio de Deus curando todas as chagas à minha volta ou
onde o Senhor me quisesse levar: até ao outro lado do globo, até ao Purgatório,
até às portas do mesmo Inferno!
A minha própria cura terá que ser a obsessão
e a oração da minha vida. Curarei pedindo para ser curado. Terei força de
vontade passando longos tempos com o Senhor, para que Ele ma possa reconstruir
e fortalecer. Passando longos tempos com o Senhor da minha vontade ouvindo a
Sua, até que não haja a mínima desarmonia entre estas duas vontades. Então eu
poderei passar dias inteiros e seguidos anunciando a Boa Nova de Deus, sem ter
tempo nem sítio onde reclinar a cabeça: mas isso será oração pura e toda a
minha força de vontade será Força de Deus. É preciso pedir. É preciso pedir
sempre. É preciso pedir com o coração. Deus só nos quer ver pedindo. É que, ao
pedirmos, estamos-Lhe dizendo que não temos, que não temos, que não temos. E
todo o nosso pecado está em ter. Até o agradecimento é uma forma de pedir:
estamos-Lhe pedindo que Se sirva da Glória que Lhe pertence. Temos tanto horror
à palavra pedir, porque justamente o nosso pecado consiste em deixar de pedir
para usurpar. Para gerir o espaço da nossa independência, que ficou vazio pelo
Pecado, tudo tivemos que roubar. Mutilámos assim tudo em que tocámos e
destruímos a Ordem original, só para não termos que pedir. E pedir era a nossa
felicidade. Pede o Pai do Céu ao Filho que morra pelos homens; pede o Filho ao
Pai que, não sendo possível deixar de beber aquele cálice, se faça a Sua
Vontade; pede o Espírito Santo ao Pai, em cada homem que eleva o coração ao
Céu, que o Seu Reino venha. Pede o Pai e o Filho e o Espírito Santo à Rainha do
Céu que venha à terra preparar os Caminhos de Jesus. E pedem os anjos à sua
Rainha que os deixe vir com Ela! No Céu pede-se. O Amor pede.
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