O
nosso Pecado obrigou Deus a viver o lado negativo do Ser. Para operar a nossa
Redenção, era necessário que Ele vivesse tudo-tudo o que a Negação de Deus (que
outra coisa não é o Pecado) nos levou a viver neste “Vale do Massacre”.
8/4/96 –– 2:55
Alegrei-me à vista destes Sinais: eles
revelam-me a Presença do meu Jesus confirmando que Se não foi embora, que Se
mantém muito vivo na Sua Testemunha, mesmo que esta nada mais possa testemunhar
neste momento senão um inconcebível vazio interior. Nem sequer divago, desta
vez: o território em que me encontro é mesmo feito de vácuo. Avalie-se um pouco
esta situação pelo tempo decorrido desde que acordei: são 4:14! Mas há, apesar
de tudo, um tremor de felicidade em mim perante aqueles algarismos: é Luz o que
estou anunciando! Jesus não censura, Jesus não exige: só o Seu Amor me arrasta
a configurar-me inteiramente com Ele: se é este vazio o que Ele está sentindo,
se é no território da mais absoluta Ausência que Ele se encontra, como poderia
eu testemunhar, se não visse, se não sentisse com Ele? Suspiro. E este novo
Sinal do Pai vem confirmar-me a verdade
da Dor do meu Mestre e abençoar a minha tentativa de colocar os meus pés no
exacto sítio das Suas pegadas. Creio que nada mais Ele quer que eu relate,
senão justamente que nada há para relatar neste território em que nos
encontramos. E é horrível: parece-me estar sentindo o lado negativo do ser! E
para além deste sentimento há só mais uma coisa no meu coração: um grande pasmo
e uma grande afeição por este Deus que assim decidiu experimentar a Negação de
Si próprio!
– Vem cá, Mestre. Não queres dizer de outra
maneira?
– De que outra maneira, Meu querido companheiro?
E servirão de alguma coisa outras palavras?
– Só queria que as pessoas pudessem
contemplar a Tua Loucura. Porque vieste aqui parar, aqui onde não há Deus?
– Porque sou a Ressurreição e a Vida e mesmo
onde tudo é Morte Eu espero sentir qualquer sinal, qualquer imperceptível
centelha de vida. Se isso acontecer, Eu posso ressuscitar todo o Vale da Morte.
– Mas porquê, meu querido Teimoso? Porque
não entregas a Morte à Morte e pronto? Fazem-Te alguma falta os que estão do
lado contrário a Ti?
– Porque Me não fazem falta os amo. Não
leste que deixo noventa e nove ovelhas abandonadas para ir à procura de uma só?
Eu deixo todos os vivos abandonados para ir à procura de um só morto, à espera
de encontrar nele uma só célula, um átomo ainda vivo.
– Ah, Mestre, meu Senhor da Vida, eu acho
que Tu fazes mais do que isso…
– Faço! Faço! Mesmo que nenhum átomo vivo
reste nesse corpo, eu ressuscito-o só para lhe perguntar se quer viver!
– E poderá haver nesse momento quem resista
ao Teu Amor?
– Não
sei.
–– Deixa-me adivinhar porque é que me
deixaste escrever esta heresia: é o Dom do Livre Arbítrio, não é?
– É o Dom do Amor: sem Liberdade não há
amor.
– Ah, Mestre, deixa-me então andar aqui
Contigo no Vale da Morte enquanto aqui andares. Se eu pudesse ajudar-Te a
ressuscitar…
– Podes. Morrendo.
– Como Tu, não é? Na Cruz?
– Só quem Me seguir até à Cruz entenderá os
loucos Caminhos do Amor do Pai.
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