Frequentemente é em sonhos que, na Bíblia, Deus Se manifesta. Eis um
desses sonhos. Profético como os da Bíblia, evidentemente, ou estes Diálogos não
são uma Profecia…
10/4/96 – 2:37
Acabo de ver, em sonho, o triunfo da Igreja
refundada por Jesus, de que só retenho isto: uma imensa multidão convergindo
para a Praça de S. Pedro, no Vaticano, não rezando orações rituais, mas
conversando animadamente, ao jeito de quem conta, um ao outro, a sua novidade,
as grandes emoções acabadas de viver. Aquela incontável multidão vinda de todas
as ruas tinha um só coração, como quem vem da mesma batalha, que todos
ganharam. Vestiam trajes vulgares e não era possível distinguir ali ninguém que
conduzisse ou coordenasse aquele fluxo humano; antes todos se encaminhavam,
pacificamente, para o centro da Praça, donde pareciam esperar um qualquer
acontecimento. E era este porventura o caso mais estranho deste sonho: a
multidão não se encaminhava para a frente, para a basílica; pelo contrário,
também daí vinha gente, muito povo anónimo, dirigindo-se para o centro da
Praça. Não cheguei a saber o que lhes veio desse centro, porque acordei, mas as
pessoas caminhavam alegres, como se ali fossem simplesmente celebrar essa mesma
alegria. Duas coisas me impressionaram de maneira especial: o não haver ali
ninguém que se realçasse no vestir, não haver ali nenhum chefe; e o
encaminhar-se aquela multidão não para a basílica, mas para o centro da Praça.
Falta dizer uma coisa importante que estranhamente me ia esquecendo: eu
caminhava no meio da multidão sem que ninguém me ligasse – e eu era o Papa!
E na secura deste mundo da Ausência em que
me encontro está-se-me desenhando uma relação entre este sonho e o texto que a
Senhora me trouxe ontem como alimento: Deus é “Aquele que chama” e a correspondência
inteira a este chamamento une num só coração e num só centro todos os chamados.
Não há grandes nem pequenos no Reino de Deus, que a Igreja deve visualizar. Por
isso o Papa caminha em direcção ao único Centro, sem que ninguém o distinga e
por isso também eu me ia esquecendo de o referir; por isso também a basílica se
transformou em “rua” anónima, donde sai o mesmo povo anónimo mas feliz. O
importante é ouvir Deus chamar e ir sempre atrás da Sua Voz naquele misterioso
Centro que unifica e pacifica; as nossas obras é Ele que as tem preparadas
desde toda a eternidade para nós as executarmos; se a um fez olho e a outro
cérebro e a outro unha e a outro estômago e a outro intestino e a outro osso e
a outro cabelo, que nos importa? Que mérito ou demérito temos nós? O importante
não é fazer parte do mesmo Corpo de Deus? “Que diremos então? Que há injustiça
em Deus? De modo algum!” (v 14). Se O ouvirmos, seremos um só corpo, na
diversidade dos dons e funções e seremos inteiramente felizes como cabelo ou
como unha ou como intestino ou como
cérebro, porque nos reconheceremos objecto da Misericórdia do Senhor (cfr v 15)
que nos redimiu do mundo da Ausência para o mundo do Ser.
– Jesus, meu Companheiro desta secura e
desta monotonia cinzenta, refunda a Tua Igreja em Ti. Transforma a basílica de
S. Pedro em rua por onde caminhem as multidões ao Teu encontro. Dá-nos
pastores que caminhem para Ti juntos
sempre do Rebanho que a eles confiares. E dá-nos a Tua Mãe, Jesus, como Mãe da
Nova Igreja, unida pela Sua Ternura materna, pelo Seu Encanto de Rainha, pelo
Poder que Lhe vem de ser Tua Mãe. Que assim seja.
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