Não tenho pressa nenhuma de morrer; quero só que a minha vida se desfaça toda ajudando no que puder o Espírito a abrir-nos os olhos, que os temos fechados desde o Primeiro Pecado e por isso passamos a vida a destruir a Criação para construirmos o Mostrengo que nos vem embrutecendo e tanto suor e tanta dor nos tem causado. Trabalhei até ao esgotamento pelo êxito da Civilização. Até que Jesus me fez ver o trágico Engano em que estava envolvido, com todos nós.
21/3/96 – 0:57
Está-se-me tornando cada vez mais insuportável
viver aqui. Só mesmo a ânsia de salvar daqui toda a gente me mantém agarrado à
vida e à Cidade. Não há projecto deste mundo que me entusiasme. Nenhuma obra
que saia da mão do homem me prende a atenção, muito menos me empolga. Só a
maldade e a dor humana me retêm a atenção, mas nem isto já me espanta e passo
adiante, à procura da raiz do mal e do sofrimento, numa ânsia, esta sim, cada
vez maior, de a arrancar. E penso: se em todos os cristãos isto mesmo estivesse
sucedendo no coração, a Cidade paralisava e em breve cairia em ruínas. Para
evitar a derrocada, a Cidade fatalmente perseguiria os cristãos. E o massacre
só terminaria com a abolição da Cidade da face da terra ou, como sucedeu com a
Igreja primitiva, com a abolição do Amor no coração dos cristãos.
Porque de Amor, de puro Amor se trata. É
este Amor que me leva o coração a gemer de dor todas as vezes que olho um
prédio em construção. É este Amor que me faz encher de pena a alma por todo
aquele cujo sonho é ter um automóvel de luxo. É este Amor que me faz ajoelhar a
esta hora, numa ânsia enorme de que o Senhor aproveite o sacrifício do meu sono
para acordar os corações todos que Satanás seduziu e anestesiou com o falso
brilho e a falsa glória da sua Cidade. É este Amor que me leva já a ir pôr na
bouça uma aranha ou uma centopeia, para não ter que as matar. Oh, como eu sonho
com o tempo em que, onde é agora a cidade do Porto e seus arredores, seja uma
floresta densa subindo pelas duas margens do rio Douro, onde se ouça um leão
rugir, um leão descendente daqueles que estão hoje no jardim zoológico da Maia!
Oh, como eu queria ver de novo tudo como o Criador o sonhou e fez! É que eu sei
que, quando a Cidade desaparecer, também a horrível Dor em que vivemos terá
desaparecido. E eis aqui como amar Deus e o Seu Sonho é amar o próximo até o
saber curado de todas as chagas, livre de toda a dor. Eis como amar Deus é
desejar estar na Cidade onde nos dói e nada nos atrai, só por estarem lá os
nossos semelhantes sofrendo.
– Jesus, estou a sonhar muito alto, não
estou?
– Porquê? Achas preferível sonhar baixo?
– Ah! Talvez eu esteja a fazer as minhas
medições com base nas nossas capacidades, na nossa dimensão.
– Sim. Tu calculas ainda a partir da vossa
capacidade de realizar sonhos. Sonha alto. Sonha o mais alto e o mais longe que
puder a tua capacidade de sonhar: o Pai do Céu realiza o teu sonho com o
descerrar de uma pálpebra, com um olhar.
– Os nossos sonhos não se realizam porque
julgamos que é a nós que compete realizá-los?
– Sim. Ainda não vistes que quando vos
pondes a realizar sonhos, todos eles viram pesadelos?
– É por isso que a Cidade se tornou este
pesadelo que nos povoa o sono?
– Deixai o Espírito agir e não haverá sonho
bom, por mais alto que seja, que não vejais realizado.
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