A
História não regista mais que a casca das coisas. Quando algum acontecimento se
torna histórico, é porque estava pronto para se manifestar. A História regista
então a manifestação do facto, mas não o . facto em si, que veio crescendo no
Silêncio, até que ficou maduro para se mostrar. Por isso agarrarmo-nos à
História com todos os nossos cinco sentidos, absolutizando-a e proclamando-a
como o único referencial da Verdade é, ainda e sempre, mostrarmos que
continuamos cegos profundos.
14/4/96
– 9:54
Eu anunciarei sempre, neste Dia Novo, Jesus
como Presença, no meio de nós, de todo o Mistério de Deus! A pouco e pouco,
sorrateiramente, conseguiu Satanás reduzir Jesus a um homem, apenas. Mesmo
considerado por todos como um homem excepcional, Jesus não é mais que um homem,
para muitos cristãos, em especial para os eruditos e para todos aqueles que os
seguem como seus mestres. Com desusado zelo se puseram estes mestres a
“desmitizar” Jesus e toda a Bíblia, para a reduzirem ao seu “núcleo histórico”.
Desmantelaram, dividiram, estraçalharam o Evangelho, para nele descobrirem o
“Jesus histórico”. Como se o facto “histórico” fosse a referência universal da
fé. Como se só no facto histórico devesse o homem de espírito sadio acreditar
ou apenas nele basear a sua fé; o resto…bem, o resto é “mito” e o mito é
construção subjectiva e o território de todas as subjectividades com que
ninguém tem o direito de perturbar os outros. Porque certo e seguro é só aquilo
que assim estes mestres alevantaram perante os olhos de toda a Cidade como
“histórico”, “objectivo”, “científico”. Acreditas na ressurreição de Lázaro? –
perguntamos nós uns aos outros, a ver se nos seguramos neste estreitíssimo
território a que os sábios reduziram a nossa fé. E se o nosso semelhante
responde que acredita, nós logo retorquimos: Mas olha que isso é mito, está
demonstrado! E olhamos o nosso irmão nos olhos, a ver se sentimos a sua Fé na
Ressurreição vacilar: se vacilar, sentimo-nos mestres; se não vacilar,
sentimo-nos juízes e condenamo-lo como ignorante. E às tantas o nosso irmão,
para se não sentir inferiorizado, passa a bloquear-se frente à Fé que trazia no
coração e lho mantinha vivo e passa a alinhar pela razão dos sábios que o
manterá morto até ao Dia da Misericórdia, em que o Senhor o ressuscitará, nem
que seja só para lhe perguntar se quer viver!.
Ora o autêntico Jesus histórico tinham-No os
“escribas e fariseus” diante de si, os mesmos eruditos e homens da lei que
antes tinham condenado a mulher adúltera. Era Aquele o Jesus histórico em toda
a sua dimensão: no Seu corpo físico e nas Suas obras concretas, históricas, que
por muitos poderiam ser testemunhadas.
E não acreditaram n’Ele!
O mesmo fizeram os nossos eruditos e
doutores da lei hoje e desde há séculos: foram à procura do Jesus histórico,
não para acreditarem n’Ele, mas para fazerem d’Ele obra sua, apondo-Lhe o seu
carimbo de propriedade! O Jesus histórico é mais uma obra de que se orgulham,
erguida em estátua ao lado de outros heróis da Cidade e que lhes serve para
esmagarem o grito de angústia de todos os pobres da terra!
Ah, como vou amar estes meus irmãos que
assim me secaram o meu Mestre? É que de tal maneira O secaram no meu e nos
corações da multidão a que pertenço, que já não sei como O hei-de proclamar
Deus aos meus semelhantes! Mas eu sei como os hei-de amar: é olhando para mim
próprio e para aquela estátua pétrea de Jesus no centro da Cidade. É que também
eu ajudei a fabricá-la, eu não posso atirar a primeira pedra aos meus irmãos
sábios e doutores da lei! Quantas vezes olhei de alto a Fé simples dos meus
irmãos pobres! Quantas vezes me acanhei de apresentar o meu Jesus como
verdadeiro Deus! E isto tudo eu fiz por medo de que me abandonassem, por medo
de que a plateia me ficasse deserta e me visse só, no palco, humilhado, sem
ninguém que me ouvisse. Esta imagem da plateia deserta é bem a imagem da
Apostasia que assolou a Igreja de Deus e que eu ajudei a crescer, por omissão,
e também por acção, quando fiz de Jesus um líder, à imagem dos chefes deste
mundo! Ah, meus irmãos sábios, eu não vos posso condenar, porque sois carne da
minha carne pecadora. Que Jesus me ajude a amar-vos!
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