Os Profetas – e qualquer pessoa que se
apaixone por Jesus – são sujeitos a provas muito duras, para que a sua Fé
adquira a omnipotência de Deus. É que eles, na verdade, falam sempre de coisas
que não são deste mundo e que, portanto, só a Fé pode ver…
7/11/95
– 18:35:18
– Faz-me perfeito, Mãe! Parece-me que estou
cada vez mais imperfeito: vejo menos, ouço menos, sinto menos, cada vez menos,
muito menos… Onde está a alegria que inundava o meu coração o ano passado por esta
época? Para onde se sumiu a vibração tão intensa do Céu em mim?
– Sentes-te culpado dessa situação?
– Não, Mãe. Fiz tudo quanto pude. Não sei
fazer mais nada. É bem verdade que perco o contacto com o Céu com alarmante
facilidade. Mas já desesperei de
remediar este mal e nem sequer disto me
sinto culpado: sofro com isto, atribuo-o à frieza do meu coração que não sei
como me veio nem como fazer desaparecer.
– Sentes-te abandonado pelo Céu?
– Tanto e tantas vezes! Tão abandonado, que
tudo quanto escrevo me parece exprimir sempre as mesmas mãos, os mesmos pés, os
mesmos dentes cravados nos mesmos sítios na escarpa do monte, para não cair e
não morrer. Só a Certeza de que o Tesouro está lá em cima, só a Esperança de
que alguém me venha valer me mantém teimoso olhando ainda de olhos mortiços a
escarpa à procura de novo ponto de apoio para subir mais um centímetro.
– E tens encontrado o apoio que procuras?
– Tenho sim, Mãe, tenho. Não sei porque não
pegas em mim, não me tiras daqui e pronto; sei só que tem que ser assim, é
assim que o Teu Jesus e meu Mestre quer. Mas dentro de mim há um sítio do
tamanho da pontinha de uma agulha, luminoso, que capta o Teu Olhar ansioso, o
Teu Sorriso confiante, o Teu Gesto acariciando levemente, imperceptivelmente. E
são estes os meus pontos de apoio. Todo o meu apoio és Tu. Mas tremem-me já de
cansaço braços e pernas, dói-me o corpo todo, ouço mal, vejo pior, diria que
estou por tudo. Só me quero manter agarrado à escarpa, se possível andando, nem
que seja um metro por dia. Nem sequer vejo nada para cima, não vejo a meta, não
sei se vou no caminho certo. Estou andando completamente às cegas. Olha, Mãe:
não entendo, por exemplo, o sentido e a utilidade e a lógica deste texto que
estou neste momento a escrever. Uma tremenda sensação de ridículo, Mãe! Eu
deveria chorar, mas nem isso consigo fazer: nem sequer lágrimas tenho, no
coração! Explica-me isto, Mãe!
– Consegues imaginar-Me explicando alguma
coisa naquela tarde diante do Meu Filho gritando que vai morrer abandonado?
– Pronto, Mãe, acabaste de explicar tudo.
Mantém-me então nesta minha cruz até tudo estar consumado. E não me deixes
escrever asneiras, Mãezinha!
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