Adorar é uma das palavras mais banalizadas da nossa Língua, actualmente. A Bíblia diz, no entanto, que só a Deus se deve adorar. Mas também aqui a perversão se meteu e, conforme fizemos com tudo o que a Deus se refere, também a Adoração a ritualizámos e deste modo a esterilizámos. A mensagem seguinte tenta reconduzir-nos à verdadeira Adoração.
22/10/95 – 3:45
Tenho uma
verdadeira adoração por Jesus. Ficaria horas e horas, dias e dias a ouvi-Lo.
Não sei o que é adorar. Venho de uma formação em que adorar é estar ajoelhado,
prostrado, em silêncio, numa igreja em penumbra, com muitas velas conduzindo
para um trono onde está uma custódia com a Hóstia. O conceito que tenho de
adorar é o da antiga “Hora de Adoração”, para mim, criança, uma coisa solene,
pesada, chata. A minha adoração pelo Mestre não tem nada disto: é só uma
sedução irresistível, um empolgamento com tudo o que Ele fez enquanto viveu e
actuou incarnado entre nós. Esta admiração, em que não há uma única sombra,
isto é, nenhuma faceta de Jesus que eu rejeite ou menos admire, virou depois
autêntica afeição. Jesus não é nada de abstracto, para mim é uma verdadeira
Pessoa com Quem se pode conversar, que se pode ver actuando, com Quem se pode
trabalhar. Tão intensa é esta sensação de Ele ser concreto, que Lhe capto a
atitude, o gesto, a expressão do rosto. Quantas vezes me apetece dar-Lhe um
abraço! Tão apertado que O parta todo! A sensação é a mesma que sentimos
perante um filho bebé: apetece comê-Lo. Mas é aqui que se situa uma outra
componente desta minha adoração: se eu O comesse, não era Ele que Se desfazia
em mim, mas era eu que me desfazia n’Ele. E é isso mesmo que me apetece:
desfazer-me n’Ele. Ou seja: este Homem encanta-me por ser Deus e este Deus
encanta-me por ser Homem! Por outras palavras: este Homem é tão Homem, que é
impossível não ser Deus! Assim, sem deixar nunca de ser em tudo um verdadeiro
Homem, eu vejo n’Ele todos os Atributos de verdadeiro Deus: omnipotente,
omnisciente, ubíquo, infinito, eterno. Sobretudo vejo n’Ele o Deus-Amor que Ele
próprio revelou em toda a sua plenitude. Empolga-me de modo especial, no
concreto da Sua actuação em mim, o sabê-Lo omnisciente e comovo-me até às
lágrimas o sabê-Lo todo-poderoso.
Acontece sempre
um sismo em mim quando Lhe chamo Pantocrator!
Mas aqui se
situa o cerne daquilo a que talvez não fique bem chamar problema: eu creio que
o facto de Jesus estar assim vivo em mim se deve a que Ele incarnou, falou,
agiu, enfim, tem uma biografia. Mas o Pai? E o Espírito Santo? E até a Mãe de
Jesus, de que se conhecem só meia dúzia de dados muito breves e leves?
Recordo-me de que a primeira Presença concreta e actuante em mim no início
desta última fase da minha conversão não foi tanto Jesus, mas mais o Espírito
Santo. Cheguei até a escrever que gostava mais d’Ele do que de Jesus, uma
formulação que só se deve à insuficiência das nossas palavras para exprimirem
realidades interiores. A verdade é que a actuação do Espírito era uma autêntica
Surpresa em mim: era subtil e forte, encantava, exaltava, alargava o coração.
Indefinível mas avassaladora, era impossível não dar por esta autêntica Força
que, por outro lado, em vez de esmagar, elevava, libertava, removia todo o
peso. Acho que foi o Espírito o meu Encanto inicial. Depois veio Jesus, como
Guia e Mestre, quando entrei no Deserto, até agora. Foi Ele que me conduziu à
Senhora. E, tal como o Espírito, me apareceu Ela no coração, como puro Encanto.
Não como alguém de quem eu admirasse os feitos, porque são muito poucos os
dados da Sua vida, muito breves e leves; só como isso mesmo: Encanto. E o Pai?
Ah, o Pai lá está. Lá, no Céu. Terrível e terno. Justo e bom. Inexorável nas
Suas decisões e derretido de afeição pela mais frágil das Suas criaturas, uma
ave do céu, um lírio do campo… Ele é a Segurança. Segurança absoluta. De lá, do
Céu, Ele tudo vê e preside ao nascimento de uma nova formiguinha e de uma nova
galáxia. Um simples cabelo da minha cabeça só cai depois de Ele lhe ter dado
licença para cair. Quem me ensinou isto tudo acerca do Pai foi Jesus. E de tal
maneira mo ensinou que ao recordar-me agora de tudo, choro. Mas o Pai, o
Espírito e a Senhora não têm biografia; é preciso vê-Los com o coração. É isso
que Jesus está fazendo comigo.
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