- Maria, se Tu não orientares o nosso diálogo noutra direcção, eu vou falar mais uma vez da terrível secura deste Deserto…
- Mas se Eu fizer o que Me pedes, não estou a
contradizer tudo aquilo que até hoje temos dito acerca da importância do
momento presente?
- Não sei; sei apenas que, faças o que fizeres, não
vais desdizer nada do que já disseste.
- Se falares do que sobressai dentro de ti neste
momento, vai ficar escrito o quê?
- Que sinto uma estranha dor no estômago, com as
apreensões que ela provoca.
- Por exemplo…?
- Que pode ser cancro: na minha família várias pessoas
morreram de cancro, a começar pela minha mãe.
- Ou então a dor pode dever-se simplesmente aos maus
tratos que dás ao estomago!?
- Pois pode: eu como e bebo tudo o que me apetece, sem
me preocupar com os avisos dos nutricionistas.
- E porque não ligas aos entendidos nessas coisas?
- Porque eles, como todos os profissionais, não fazem
outra coisa senão esterilizar elegantemente a vida.
- Não achas que estás a ter um comportamento
obscurantista, de um radicalismo cego e perigoso?
- Sim, é uma séria hipótese. Mas este meu comportamento
não deixa de ser ditado por uma particular lucidez que do Céu recebi: a visão
das profissões todas sem excepção como os vários sectores especializados da
medonha fábrica de mutilar e esterilizar a vida, que é toda a Civilização, é
uma visão tão persistente, tão clara, tão abrangente que, desde que se me
abriu, nenhum indício, nenhum argumento mais me foi apresentado que me permitisse
sequer duvidar desta luminosa Verdade: a Obra do homem é, de alto a baixo, de
fora para dentro, inteiramente diabólica.
- Mas se a tua dor no estômago permanecer e aumentar,
tu vais consultar os especialistas mutiladores!?
- Sim, é esse o sentido da Incarnação: é necessário que
os amigos de Jesus se sujeitem, como Ele, ao reino satânico, para que nem uma
peça, nem um átomo deste Corpo mecânico fique privado da Luz.
- E não é falsa, hipócrita, essa atitude?
- Não: a Máquina também fui eu que a construí. Eu vou
entregar-me àquilo que é meu.
São 8:42!
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