- Como Tu sabes, Maria, dei comigo a pensar de novo na
impossibilidade que é a queda e o desaparecimento da Civilização.
- Pensaste até em formas de a conservar…
- Sim, vejo os governos deste mundo já conscientes do
perigo que representa esta agressão à Natureza e a procurarem, por exemplo,
“energias alternativas”, não poluentes, a fazerem “estudos de impacto
ambiental” para preservarem o “equilíbrio ecológico” sempre que uma nova grande
construção é projetada…
- Portanto, puseste seriamente a hipótese de se
conseguir um equilíbrio entre a Civilização e a Natureza!?
- Sim, considerei sobretudo as extraordinárias obras de
arte, desde a arte dos sons a que chamamos música, até às artes visualizantes - pintura, escultura, arquitectura, teatro, cinema…
- Isto é, admites que pudéssemos viver sem aviões e
todos os meios de transporte, sem telescópios e sem computadores. Mas sem
música…
- Não Te parece que seria uma tristeza, Maria?
- Ai isso era! Sem música, a vida era realmente uma
tristeza. E então? Vamos conservar a música?
- Pois…mas não há musica sem instrumentos musicais e
para os fabricar precisamos de fábricas de instrumentos…
- Talvez fábricas só para violinos e pianos e o resto…
- Mas são precisas fábricas para fazer fábricas e havendo
fábricas para fazer música não se entende por que não haveria de haver fábricas
para fazer outras coisas boas, por exemplo casas de espectáculos com
aparelhagens de som e iluminação…e já agora porque não a televisão e a internet , para que todos, em toda a terra, pudessem
fruir dos empolgantes concertos, das músicas da sua predilecção?
- Bom, parece claro que, se queres música, queres
implicitamente a Civilização inteira!
- Pois é… Não dá.
- Talvez a tal Civilização não poluente…
- Não dá: qualquer resquício de civilização polui.
- Bem inseridas na Natureza, as coisas…
- Não dá: coisas mortas não combinam com coisas vivas.
- A morte é uma constante na Natureza. As próprias
folhas, no Outono……
- Não estão mortas; estão só transformando-se em novas
formas de vida, para alimento das novas árvores.
- Os animais…
- Apenas caem como as folhas e depressa se vão juntar à
matéria orgânica, para iniciar um novo
ciclo de vida. Não é uma verdadeira morte e por isso não polui. Só a
civilização mata e conserva mortas as coisas durante muito tempo, com muito
esforço.
- E lá se vai a nossa música…
- Não vai; vem. A Natureza pura está cheia de música.
Não há criatura, por mais pequena que seja, que não tenha a sua voz, que não
cante continuamente os seu cântico, que não faça a sua música, que não
participe no Coro universal.
- Isso não é só especulação, poesia?
- Claro que é! No meio destes trastes todos, que não me
deixam ouvir o Cântico das Criaturas, que outra forma tenho eu de chegar à
música pura, de que tantas saudades tem a minha carne cansada?
São 9:34!
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