- Maria, escrevi ontem que Deus abandonará por um momento as palavras incarnadas de Jesus, que toda a gente conhece, para que Ele apareça directamente nos corações e aí fascine as pessoas até à louca paixão
- Sim. E tens alguma dúvida acerca do que ficou
escrito?
- A Incarnação! É, de facto, tremendo este Mistério…
Parece que, enquanto vemos Deus incarnado, não O reconhecemos como Deus. E no
entanto sem a Incarnação não poderia haver uma relação afectiva pessoal com
Ele, muito menos uma verdadeira paixão.
- E no entanto sem essa paixão ninguém verdadeiramente
terá encontrado Deus!?
- É verdade.
- Mas olha: as pessoas que viveram antes de Jesus e
todas aquelas que nunca O conheceram…como é? Não acabas de afirmar que elas
nunca puderam nem poderão amar Deus assim, apaixonadamente?
- Ia dar-Te uma resposta, mas parei, indeciso.
- E que resposta ias dar?
- Que mesmo os que não conheceram Jesus puderam amar
Deus apaixonadamente, porque Ele, apesar de invisível, Se lhes mostrou bem
pessoal e estreitamente implicado nos problemas concretos, quer individual, que
colectivamente. Um Deus abstracto nunca poderia suscitar qualquer paixão.
- Estavas a pensar no Povo eleito, nos patriarcas, nos
Profetas, nos salmistas!?
- Estava. E depois pensei até noutras religiões e vi
que essa mesma relação com a vida concreta, alterando-a, mexendo intensamente
com ela, é uma constante.
- Mas depois então…duvidaste!?
- Sim, apareceu-me nos espírito a Igreja primitiva e duvidei: só Jesus feito homem,
igualzinho a nós, poderia suscitar tamanha paixão, a ponto de provocar, durante
trezentos anos, contínuos mártires, aos milhares, sem nunca terem usado as
armas dos perseguidores.
- Portanto não é possível amar Deus da mesma forma
antes e depois da Incarnação!?
- Sim, foi essa a realidade que se me realçou de
repente, diante dos olhos: a relação com Deus tornou-se substancialmente outra
depois da Incarnação. Por isso Jesus chamou novo
ao Seu Mandamento: os Seus discípulos haveriam de amar como Ele amou. Ora isto não é possível para quem nunca teve
conhecimento da forma como Ele amou.
- Nunca, portanto, os judeus antes de Jesus e os outros
povos até hoje puderam amar Deus como nós que conhecemos o Seu percurso
histórico e vimos como terminou!?
- Acho que não, embora tivesse havido corações sedentos
de Deus “como o veado das águas correntes”.
- E no entanto, mesmo conhecendo o percurso histórico
de Jesus, as pessoas podem ficar insensíveis ao Amor de Deus!?
- Podem. Não há quem não admire Jesus, mas admiração
não é, de modo nenhum, amor.
- Isto é, sem a Incarnação não conheceríamos o Amor,
mas a Incarnação não basta para amarmos como Ele amou!?
- Não: é necessário o Toque do Espírito!…
São 10:17!
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