Não é possível, sem qualquer ajuda, aguentar por muito tempo esta situação. Já muitas vezes aconteceu ter-se fechado o Céu todo sobre mim. Mas aqui, bem perto, acabava por encontrar sempre Jesus, o meu indefectível Companheiro, vivendo a mesma situação que eu, em grau sempre mais intenso. Tão intenso, que por último O vi reduzido a bolor, a folhas de Outono arrastadas pelo vento, a cinza. A restos mortais.
Mas agora também Ele me foi tirado e fiquei aqui sozinho, sentado na imensidão das areias e destas fantasmagóricas construções de barro esboroando-se… Não há nada aqui que me possa interessar. Vou com Jesus à procura da minha verdadeira Pátria, porque acreditei n’Ele às cegas e Ele, pelo caminho, conseguiu contagiar-me com todos os seus loucos Sonhos. Contra toda a lógica e todas as evidências, eu acreditei sempre em que este caminho por onde Ele me guiava, sempre cada vez mais para o centro desta Devastação, era o caminho certo para a terra dos meus Sonhos que cada vez mais se foram tornando os Seus. Sempre sonhei alto e largo, mas o meu Companheiro conseguiu ampliar-me os sonhos até ao Impossível e ao Absurdo e foi isto que n’Ele inteiramente me fascinou.
Agora Ele desapareceu como desaparecem, com um golpe de vento, o bolor, as folhas secas, a cinza. E deixou-me aqui, em pleno território do Impossível e do Absurdo: não há, para o mais agudo e ousado raciocínio humano, a mínima hipótese de aqui acontecer o que quer que seja de bom, de ter sido certo o caminho que os dois seguimos. Mas o meu Amigo nunca me enganou. Ele sempre me disse que o caminho era ao contrário dos caminhos do mundo e foi justamente isso que me seduziu. E depois, quando eu Lhe perguntava se ainda faltava muito para chegar ao fim do Deserto e ver, diante dos olhos deslumbrados, de repente, o Vale Verdejante que os meus sonhos iam pintando, Ele lentamente me foi explicando que os nossos Sonhos não eram para ser realizados depois, quando acabasse o Deserto. E de facto eu verificava que, para lá de cada horizonte que alcançávamos, sempre mais Deserto se estendia. E quando eu Lhe observei que desse modo iríamos morrer aqui, irremediavelmente, Ele acenou que sim, com um olhar muito firme, mas muito sereno e doce, como se dissesse: Estou só realizando o que Me pediste. Não Me disseste sempre que és homem de tudo ou nada? Não acabou por ser o Impossível e o Absurdo que te seduziram?
E também eu acenei que sim, muito feliz. E Ele, o meu Mestre, deve ter notado nos meus olhos um brilho invencível: era por Ele ser assim louco que eu O amava. É verdade: quero tudo ou nada; não suporto as meias medidas. O meu Companheiro nunca me enganou, nem eu a Ele. Agora sinto os nossos Sonhos já realizando-se aqui mesmo, neste lugar. E aqui espero Tudo Novo!
São 5:46!?
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