– Ao que parece, o fogo em que ardes é quase insuportável…
– Mas isto não é fogo; é gelo!
– É sofrimento, não?
– Isso é. E duro.
– Porque não reconheces então neste sofrimento o Fogo em que estás mergulhando, isto é, em que te estás baptizando?
– É difícil… A sensação não é a de arder; é a de estar morrendo de frio.
– E julgas tu ir sempre de encontro a sensações de calor quando começar a tua vida pública?
–v Jesus já me avisou de que o maior sofrimento será o embate contra a indiferença e a frieza das pessoas. Mas há ao menos o fragor de uma batalha. Aqui não há nada; está tudo imobilizado…
– Ah, Meu menino de olhos ainda tão aguados, de visão tão curtinha ainda! Não sentes já estar envolvido numa guerra cruel, desesperada?
– Referes-Te a esta muralha de gelo com que estou sendo sitiado?
– Sim: ainda não há muito tempo te viste como uma cidade sitiada por um exército inteiro, lembras-te?
– Sim, é a sensação mais intensa ultimamente – a de estar cercado por inimigos cruéis.
– Então não rejeites o Dom do sofrimento presente. O sofrimento mais precioso é este sofrimento escondido, em que nem sequer apareces como vítima.
– É um sofrimento de que está necessariamente ausente toda a vaidade?
– Isso. Não pedias no início tantas vezes ao teu Mestre para te retirar do palco?
– Sim, muitas vezes me imaginava diante de pessoas discursando e recebendo o seu aplauso.
– Então deixa que Jesus continue mantendo ainda a tua Alma mergulhada no Fogo purificador de toda a vaidade e de toda a ambição.
– Diz-me: Ele também teve que ser purificado destes defeitos?
– Tu sabes que Ele foi sujeito a todas as comuns tentações das pessoas.
– E teve também que sofrer para resistir a elas?
– Ele teve que passar por todos os sofrimentos que podem atingir os homens.
– Então pede-Lhe comigo que afaste de mim definitivamente toda a vaidade e toda a usurpação encapotada da Sua Glória.
– Tu sabes que a Sua máxima Glória está agora nas Chagas que traz gravadas no Corpo inocente…
– Sim. E já vi que me estás querendo comunicar uma nova faceta da Verdade.
– Diz qual é, diz!
– Só num corpo inocente são poderosas as chagas que ele tiver abertas. Só o sofrimento da inocência é redentor.
– Então há uma coisa que não se entende muito bem: se o sofrimento por que estás passando é apenas um sofrimento purificador, é, portanto, o sofrimento de uma pessoa ainda não inocente, não tem a força redentora do sofrimento de alguém já inocente!?
– Não é assim, Maria, minha querida provocadora: para além de que em Deus não há tempo, quem aceita mergulhar voluntariamente no Baptismo do sofrimento já está sendo ele próprio redimido e portanto purificado.
– Descansa então. E nunca tenhas medo do momento presente.
São 4:25!
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