Uma opressiva sensação de abandono e de devastação! Um silêncio gélido cobrindo tudo, emudecendo completamente as Vozes do Céu que ali num dia já muito longínquo se fizeram ouvir, quer a do Arcanjo Miguel, quer a da própria Rainha do Céu! As próprias construções ali levantadas, pesadonas e tímidas, mais revelavam a garra esterilizante da Besta, ali cravada. No alto, uma Cruz de Amor de Dozulé estava reduzida quase só ao esqueleto interior. Uma outra cruz da mesma altura, com as mesmas cores, azul e branca, estava também degradada, com os cabos da iluminação eléctrica cortados. Na pequena capela, com grades de ferro que pareciam de prisão, o altar estava rodeado de toda a sorte de imagens e de trastes, dispostos de forma anárquica. Via-se que ali talvez nunca se tivesse celebrado a Eucaristia, para que o Arcanjo Miguel viera chamar as atenções e os corações.
Neste clima, os quadros das estações da Via-Sacra revelavam bem o sofrimento do nosso Redentor, obrigado, talvez, a deixar abater sobre a terra o Castigo que a Mãe ali viera anunciar e que ali mesmo ficou gravado sobre pedra e mais abaixo na aldeia, na casa de artigos religiosos, em todas as estampas à venda. Em todos os lugares em que havia uma qualquer imagem ou construção havia flores - murchas as naturais, e caídas juntamente com os respectivos vasos as de plástico. Havia ali nitidamente algumas mãos resistentes tentando contrariar a força e o peso da garra devastadora. Até que, no alto, em frente dos pinheiros encontrámos, de facto, algumas dessas mãos trémulas: eram duas senhoras vindas do outro lado do mar, da Colômbia, que contemplavam, mudas, o abandono em que se encontravam todos os objectos pessoais colocados junto dos pinheiros, sobretudo junto de um deles. Alguns eram cartas ainda fechadas, engelhadas e desbotadas pelo gelo e pela chuva, contendo provavelmente pedidos que ninguém leu e só a Mãe certamente levou, como se estivesse executando uma missão clandestina, até ao Coração do Seu Filho…
Na aldeia, as pessoas dizem que o pároco nunca se refere às Aparições, “porque não estão aprovadas”. E parece que evitam falar dos misteriosos acontecimentos de há quarenta anos. Das quatro pequeninas videntes, nenhuma mais vive ali: todas casaram e estão espalhadas pelo mundo. E é neste silêncio tenebroso que se abateu sobre Garabandal que os crentes esperam o dia em que, enfim, Conchita anuncie o Milagre ali mesmo profetizado.
São 4:22:22!!
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