Que faço então? Poderei eu algum dia asfixiar este Deus que de dentro de mim irrompe assim luminoso, este Homem que dentro de mim se agigantou até se estender pela Dimensão de Deus, para servir as leis e as doutrinas? Não, não vou ter alternativa: já nenhum poder deste mundo conseguirá calar o irreprimível grito que me sai, puro, da Alegria que me inunda as raízes da Alma. É um grito cristalino, sem uma reserva, que proclama, no meio do Deserto: Não precisamos de nenhuma lei, de nenhuma doutrina, de nenhum dogma! Não precisamos de que ninguém nos diga nada! Nenhuma voz vinda de fora do nosso coração será ouvida, a partir de agora. A Lei do Amor é a minha única Lei. E esta Lei está toda, viva, dentro de mim!
Eu sei: se por palavras ou por atitudes eu exteriorizar este meu grito na praça pública, ele poderá provocar um mar de sangue. Mas ele corresponderá de tal maneira à mais funda e genuína ânsia do nosso coração, que poderá, do mesmo modo, desencadear o maior movimento de Libertação até hoje registado na História dos homens. É que ninguém até hoje soltou ainda este grito assim aberto, assim escancarado, assim transparente. Sinto agora ser necessário apenas que alguém o solte, porque a universal Chantagem do Pecado não permitiu que até hoje ele fosse solto por nenhuma boca, sob a ameaça de uma catástrofe planetária; se alguém o soltar, isso significará uma ousadia tal, que rasgará de alto a baixo uma fenda na Chantagem e uma multidão incontável saberá que chegou, enfim, à terra, a Hora da Libertação.
A Profecia que escrevo é, toda ela, este Grito. Saiu à rua no passado dia sete, mas foi ainda só à procura de corações que o pudessem ouvir. Não sei se encontrou algum coração atento e disponível, em algum beco mais silencioso da nossa barulhenta Babilónia. Sei, no entanto, que é só uma questão de tempo: quando menos o esperarmos, ele surgirá, o Grito inevitável, na praça pública. Talvez gritado por um só coração. Ou por muitos corações, talvez, ao mesmo tempo. E quando isto acontecer, tornar-se-á imparável o rasgão no edifício da Lei deste mundo: quando os guardiães da Moral e da Doutrina derem conta, já as multidões se estarão encaminhando para a brecha dilatada por novos gritos e muitos dos próprios doutores da Lei se deixarão seduzir pelo fulgor da Verdade saída, enfim, das masmorras do Medo.
Sairão, é claro, em força, também todos os proprietários do Labirinto, para tentar ainda entulhar, de qualquer forma, a enorme brecha. E será esta a causa da Grande Tribulação que nos está profetizada. Mas quer-me romper o coração uma expectativa singular: como irão reagir estes brutamontes quando souberem que este Grito é alimentado pelo Coração da Rainha do Céu?
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