13/1/02 - 5:13
Mas com frio, ou com sono, ou com febre, não sou capaz de deixar de escrever, ao menos nas vigílias. Porque se mantém sempre, no meio destes vendavais, uma ténue ligação a Jesus dizendo-me que Ele também está só, muito mais só do que eu no Seu Getsémani e que é impossível a minha Alma esgotar-se, porque é Filha de Deus.
Então escrevo tudo o que se passa neste meu Silêncio interior, mesmo quando ele é povoado de enjoo, de desinteresse, de solidão. Porque no meio deste descalabro continua latente a percepção de que também destes momentos se faz a vida humana e é preciso registá-los para testemunho e encorajamento de todos os caminhantes em direcção à Casa do Pai. E nesta Fé espero sempre o dia seguinte, que me mostrará já sem névoas a Palavra semeada nos dias anteriores. E é como se visse a terra fofa regada pelo Sangue quente do nosso Redentor.
Mas esta minha solidão interior é acentuada ainda pelo facto de nada acontecer sobre a terra, senão o avanço encapotado da Maldade, que parece não ter quem a trave nesta sua cavalgada triunfal. O Céu parece ainda mais fechado e mudo, sobre as nossas cabeças. Não me chega nenhuma notícia de que o Céu se tenha aberto ultimamente em qualquer parte da terra. Chega a ser opressiva e deprimente esta situação: ninguém pode fazer nada, senão esperar. E lembro-me outra vez dos judeus no Deserto: tão desesperante se tornou esta situação de pura espera, que um grande grupo se revoltou contra Moisés, avançando por sua conta para a conquista da Terra da Promissão. Voltaram escorraçados e Moisés continuou teimando em que era preciso esperar.
Esperar. Pareço, também eu, não ter feito outra coisa, desde há muito tempo. Várias vezes esperei já o Dia ao virar da esquina, depois daquela montanha além, aqui no Deserto. Mas sempre a minha expectativa foi preenchida com nova extensão de areia, a perder de vista. Então enchi esta nova extensão com o meu sofrimento, em que descobri a Misericórdia de Deus infiltrando-se docemente no areal estéril. E assim sempre de novo a minha espera se tornou Esperança. É fácil, de facto, constatar que Deus já não é notícia. Mas esta descida silenciosa do sangue do Redentor ao ventre da terra é tanto mais intensa quanto mais afoito e triunfal avança à superfície o príncipe deste mundo.
É preciso que, desta vez, a Hora amadureça em toda a sua extensão e perfeição: o que está para acontecer é o mais decisivo e glorioso momento da História da Humanidade. Sinto o Pai retardando a Hora. É muito nítida esta sensação. E isto dá força à minha Esperança: quando a Hora vier, nada lhe resistirá.
São 8:26!
PAZ E BEM
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