Eu tinha batido numa das minhas
filhas por aquilo que eu achei uma desobediência grave. E não sei a quem a
bofetada doeu mais – se a ela, se a mim. Jesus não está alheio a nada disto;
ressuscitando, ficou mais incarnado ainda – foi isto que ele me ensinou.
3/1/96
– 1:30
– Mestre,
quanto falta? Achas que vou aguentar até lá? Que sensação horrível esta agora!
Parece tudo gretado, a terra e os meus lábios, por falta, já não só de água,
nas até da humidade da noite… A terra em que me movo nada tem a ver com a terra
que piso, encharcada com as chuvas torrenciais dos últimos dias. Mas eu já mal
aqui vivo, é outro o território que atravesso, é outra a Pátria a que me
dirijo. Mas é tão longe, Mestre! Nunca mais chegamos… Olha, vem cá, para eu Te
dizer ao ouvido: a minha maior desgraça seria desistir agora, ficar para trás,
perder-me de Ti! Não vais permitir isso, pois não? Eu sei que estás muito mais
cansado do que eu, além do mais carregas os pecados todos do mundo, mas podias
responder qualquer coisa…
– Esta secura são os pecados do mundo que
também tu transportas comigo.
– Ai os pecados é que produzem isto?
– O
pecado mata tudo o que é vida.
– E para onde vamos então? Qual é a Tua esperança? Que misteriosa Pátria é essa que o
pecado ainda não secou?
– É onde está a Árvore da Vida.
– Então é ao Paraíso que estamos
regressando, àquele donde fomos expulsos?
– ...
– Não pares de falar, Mestre. Sei que é
muito pesado o Teu fardo, mas sei também que a Tua energia é inesgotável.
– Não é, não!
– Não??!
– Vê, toca-me. Eu tenho carne igual à tua,
carne que se cansa, que tem sede, que vai morrer, como a tua.
– Ah! Mas isso que dizes não é heresia? Tu
não ressuscitaste definitivamente?
– Eu sou vosso Irmão definitivamente… Porque
ressuscitei, não tenho passado nem futuro: sou vosso Irmão de carne e osso
sempre.
– Morrendo sempre outra vez?
– Eu não sou uma recordação longínqua, de
há dois mil anos.
– Onde estás, então, para que eu Te toque?
– Na tua filha, a quem bateste.
– Como???
– E na tua dor, por lhe teres batido. Eu
estou onde há sofrimento.
– Sofrimento no corpo e na alma?
– Sofrimento. O teu sofrimento é aonde?
– Não sei. Até no corpo o sinto. É talvez
maior que o dela.
– Vês? Eu sou concreto. É no Meu Corpo que
dói toda a vossa dor.
– Todas as nossas dores Te estão doendo a
Ti, concretamente?
– Como a vós vos doem. Eu incarnei para vos
sentir as dores, para sempre. Como pudestes pensar que eu desincarnei?
– É tão grande este Mistério, meu Jesus! Tu
estás sofrendo em nós!
– Estou morrendo em vós, também. As Minhas
energias esgotam-se, como as vossas, os Meus lábios gretam, como os vossos.
– E quando alguém é crucificado, também ali
estás, como naquele tempo, jorrando sangue e abandono?
– Eu sou, como todos os crucificados, o
grão de trigo que esgotou todas as suas energias na morte.
– Mas, ah!, mas ao terceiro dia…
– Sim, Salomão. Ao terceiro dia, como no
grão de trigo, toda a energia esgotada se verá numa nova espiga, com muitos
grãos!
– Bem hajas, meu Irmão de carne e osso! Bem
hajas, meu Amor!
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