Uma vez tornados amigos de Jesus, Ele conduz-nos a todo o conhecimento.
Uma das primeiras coisas que me revelou foi o Pai, que eu na verdade não conhecia
e por isso levou algum tempo até me habituar a lidar com Ele…
20/12/95
– 9:15:05
– Paizinho, olha: eu ainda não estou muito à
vontade Contigo. E posso estar, pois posso?
– Porque não havias de poder estar à vontade
Comigo?
– Não sei… Deve ser palermice, mas ainda Te
vejo distante…Terno, sim, na maneira como olhas e velas por todas as Tuas
criaturas, até pelos microbiozinhos, mas assim falar com a gente, neste
tu-cá-tu-lá, não sei que me parece…tenho medo de ofender a Tua Santidade.
Vejo-Te muito Bom, mas silencioso, ouvindo tudo, olhando apenas, decidindo
rápido sempre que é preciso. Eterno e Omnipotente e Omnisciente e Terrível
também, e isto me empolga e me dá uma repousante segurança. Não tenho, nunca
tive medo de Ti. Mas tenho assim um respeitinho especial… Por isso Te dirigi já
longas orações com muita confiança e com uma terna afeição por Ti. Mas vi-Te
sempre ouvindo, silencioso, como Quem toma nota de tudo, mas tem lá os Seus
Desígnios que o filho pequenino não conhece, nem pode conhecer: Tu tens a visão
global do Universo inteiro e do Tempo inteiro, passado e futuro e…e eu só tenho
a visão da minha historiazita e do meu problemazito tão pequenino… Por isso Te
falo e aceito que não me respondas, aceito mesmo sem constrangimento nenhum e
vou-me embora feliz, sempre com a consciência de que nem uma palavra da minha
oração se vai perder – a “consciência” de que falo também me mora no coração e
é quente, vem sempre palpitando, muito viva, como se fosse, também ela, só
coração. Sinto que tens uma Lógica Tua, um Plano Teu, um grandioso Sonho Teu
desde toda a eternidade e que por isso, quando falo Contigo, mais do que aquilo
que digo, Tu sabes o que eu quero dizer: as minhas palavras ultrapassam-me
quando rezo – se Te peço pão, Tu entendes Luz e o que Tu entendeste é que é a
verdade funda do meu coração. Assim me venho sempre tranquilo da Tua Presença e
Tu lá ficas, silencioso e terno… Mas entrar em diálogo contigo…
– Sentes necessidade de dialogar Comigo?
– Propriamente não: basta-me olhar para Ti
e observar o Teu Rosto. Quando o vejo sereno, dá-me Paz; quando o vejo triste,
dá-me vontade de curar todas as chagas do mundo; quando o vejo irado ou só
tenso, empolga-me e só queria executar ordens Tuas. Mas de conversar Contigo
não sinto verdadeira necessidade: sei cá dentro que conversando com Jesus e com
a minha Mãe Tu estás sempre connosco assim silencioso e é como se as palavras
d’Eles os Dois viessem directamente de Ti. Eles parecem-me a tua Voz. Eles são
o Teu Milagre na nossa carne! Fizeste d’Eles Linguagem Tua em palavras nossas!
Querido Pai! Vês?… Que senti eu agora? Foi como se o Teu Silêncio falasse, como
se as palavras que escrevi mas tivesses falado Tu aqui dentro! É o Teu Espírito
que faz isto, não é?
– É.
Esta resposta do Pai foi mais como um aceno
de cabeça. E eu gosto assim: estas respostas são acenos do Mistério a
seduzir-me com a sua Surpresa e Imensidão. Andei sempre na minha vida saltando
ou arrombando os sucessivos muros que vi levantados à minha frente. Fez-me o
Criador um coração insaciável de Mistério. Não paro nunca. Creio que nunca tive
medo do Mistério. Talvez porque me está todo concentrado no Pai do Céu e eu
nunca tive medo do Pai do Céu: o que muitas vezes me acontece é ficar
aparvalhado com as Maravilhas todas que Ele cria e protege, desde o “código
genético” ao “buraco negro”, como os nossos sábios agora dizem…
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