Os discípulos de Jesus nunca formarão uma
elite de gente privilegiada: eles estarap sempre, mais que ninguém, inseridos
neste mundo, na mais rotineira e anónima das vidas, sem que Deus lhes eliminje
os defeitos, ou colmate as suas deficiências; só no coração é que eles passarão
a ser diferentes e só por isso darão nas vistas.
9/12/95 - 6:27/8
É aqui, no Mistério da nossa deficiência,
que a Senhora está pedindo para me fixar. Senti-o de maneira especial nos
últimos dias de preparação da festa; o cansaço agravava a minha deficiência: eu
hesitava, eu esquecia-me das coisas, eu agia por vezes sem planificação prévia
e por isso sem eficiência, eu enervava-me com facilidade, era-me difícil
conservar a boa disposição habitual. Achava eu que o Céu me deveria ajudar,
colmatando a minha deficiência. Cheguei a duvidar, justamente por o Céu não valer
à minha fragilidade, de que todo aquele trabalho fosse do agrado de Deus. A
verdade é que o Céu, fechado e mudo, nada fez. É também um facto terem
acontecido espantosas “coincidências”, em que eu logo via a intervenção da
minha Mãe. Mas na própria tarde do dia do espectáculo percorri o Porto todo de
bicicleta à procura de uma “luz negra” e regressei cansadíssimo sem a ter
encontrado. E murmurava: Porque me fazes isto, Mãe? Não me podias, por qualquer
meio, ter evitado esta viagem inútil?
Mas não: a Rainha do Céu e da terra não
evitava nada, não respondia nada, não compensava nenhuma das minhas
deficiências. E no entanto eu sentia-A presente de forma muito intensa. Porquê,
então, este comportamento à primeira vista tão estranho, já que Ela, se quisesse,
tudo poderia fazer? E mais uma vez a eterna resposta da Bíblia: os Caminhos de
Deus são tão distantes dos nossos como da terra está distante o último corpo
celeste. Mas não está escrito também que, se O servirmos, Deus nos ajudará em
todas as nossas empresas? Está e é a pura verdade. Mas é que, em primeiro
lugar, se O servirmos, as nossas empresas passam a ser progressivamente
substituídas pelas Suas Empresas; e em segundo lugar o que é êxito para Deus
pode ser um rotundo fracasso aos olhos dos homens. Isto é, Deus mantém em
nós, até ao fim, a
presença da
nossa deficiência, porque ela faz parte da carne corruptível de que só na morte
nos libertamos. Por ela nos agarramos ao mundo como placenta ao útero. Por isso
não veio Jesus tirar-nos do mundo: disse expressamente ao Pai, na oração da
despedida, que não era esse o pedido que Lhe fazia; Ele estava unido ao Coração
do Pai e sabia que não era esse o Seu Desígnio. Não é do mundo que Jesus pede
ao Pai que nos tire; como Ele, é justamente ao mundo que os Seus discípulos são
enviados para nele morrerem qual remédio infiltrando-se-lhe nas entranhas, a
fim de que o mundo seja curado. É pelas nossas deficiências que nos mantemos no
mundo; doutra sorte, seríamos seres estranhos, acima dos outros, humilhando com
a nossa perfeição os nossos irmãos. O próprio Jesus e sua Mãe em tudo estiveram
sujeitos à nossa deficiência. Excepto no Pecado. Por isso é que o pedido de
Jesus é só que o Pai nos guarde do Mal.
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