Deus é impassível; se sofresse, não seria
perfeito – assim diz o Dogma. Mas o Espírito, desta vez como Pessoa, ensina-nos
a entender porque é que o Dogma está errado.
17/12/95
– 11:43
– Meu Senhor Espírito Santo, que estás Tu
dizendo no meu coração e escrevendo com esta caneta? És Tu, não és, Quem tudo
isto diz e faz? Que ânsia é esta de nascer, alastrando dentro deste frio? És
Tu, não és? Não pode ser o Demónio, não pode ser o Pecado, pois não, querido
Artífice deste ser novo que sinto crescer em mim? Explica-me isto: é débil e
forte ao mesmo tempo a realidade nova que me povoa. Débil, porque é
intermitente; forte, porque é teimosa. E se falasses comigo, meu débil e forte
Amor?
– Que Me queres, Salomão?
– Contigo não estou ainda habituado a
dialogar… Tenho mais dificuldade em Te identificar como Pessoa; apenas Te sinto
como uma subtil vibração… O espírito, para nós, é uma coisa abstracta…
indefinível.
– E para que querias tu definir-Me,
delimitar-me?
– Nós somos feitos de carne…
– E de Espírito. Vós sois feitos de Mim!
– E…e como Te sentes nestes trambolhos que
somos? Amas-nos muito, não amas?
– Eu sou a Pessoa da Trindade que
directamente contacta com o “trambolho” da vossa carne. Eu vivo na vossa
incrível disformidade, na vossa horrorosa podridão, sempre, sempre, até que Me
deixeis transfigurar-vos em corpo glorioso e imortal, ou Me escorraceis
completamente do monturo em que o Pecado pode transformar-vos.
– Senhor, meu querido Senhor, sofres muito,
não sofres?
– Sofro. Diz a todas as criaturas que Deus
sofre.
– Tu bem sabes, meu Senhor, que isso é
heresia: o nosso dogma diz que Deus não pode sofrer.
– O vosso dogma, todos os vossos dogmas, são
muros com que vos rodeastes, para delimitardes uma propriedade que não é vossa.
Os vossos dogmas estão-vos impedindo de verdes Deus fora das vossas muralhas
sangrando numa Cruz. Nunca mais compreendeis que a Cruz apenas visualizou na
vossa carne o Sofrimento Eterno do vosso Deus? Não foi há dois mil anos que o
Meu Jesus foi crucificado. Aquela Cruz percorre-Me desde o Pecado que Eu, o Meu
Pai e o Meu Jesus vimos desde toda a eternidade! Porque sois tão curtos de
vistas? Porque vos comprazeis assim na vossa cegueira? Se soubésseis o que
sinto aqui, rodeando cada uma das vossas células em decomposição, à espera que
Me deixeis penetrá-las antes que de todo se desfaçam! Ah, se soubésseis quanto
sofre o vosso Deus!
– Mas…és, então, infeliz?
– És infeliz tu jejuando e passando o
sofrimento que já passaste pelo teu Herói Jesus?
– Não, não, meu querido Senhor! É difícil de
explicar, mas não há no meu sofrimento, neste sofrimento que referiste, nem
ponta de infelicidade; parece–me que todo ele é amor, apenas, amor curando e
unindo.
– Diz então a todos os teus irmãos homens
que Eu sofro, que o vosso Deus sofre, porque vos ama. Que cegueira é a vossa
que faz de Deus um Ser assistindo do alto do Céu, impassível, à horrorosa dor
das criaturas que Lhe saíram das próprias Mãos?
– Vê, meu querido Senhor, até onde nós
chegámos! Parece tão claro e simples e nós não vemos!
– Anuncia então, Meu querido amigo, a todos
os corações, o Sofrimento de Deus.
– Tu sabes o que vai acontecer: vão-me
chamar blasfemo e vão tentar calar-me.
– Mas não vão conseguir: Eu serei a tua voz.
Eu te revestirei de Simplicidade, de modo que todos os simples do mundo te
ouçam. Verás todos os dogmas e toda a complicação ruir. Verás toda a Cidade
desfazer-se em pó!
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