Do futuro só sei uma coisa: que Deus me ama
muito e será sempre fiel a este amor. Torna-se, pois, estéril toda a minha
tentativa de adivinhar os acontecimentos que hão-de vir. Na verdade, que me
interessam os acontecimentos futuros, se eu sei que em todo o momento e em toda
a circunstância Deus me estará amando com louca paixão?
E estou tirando uma conclusão surpreendente:
quanto mais eliminar da minha vida a preocupação com o futuro, mais prevenido e
preparado estarei para o enfrentar, seja ele qual for! Se sempre me reduzir a
cada presente e nele viver sem ansiedades ou apreensões o amor apaixonado do
meu Deus, Ele, que está em todo o passado e em todo o futuro, me estará
assumindo na Sua Dimensão eterna: eu estarei, em verdade, já no futuro e todo o
passado se me iluminará com a Luz que lhe vem do próprio futuro. Deste modo,
também o meu tempo será uno, na medida em que participa na visão de Deus, para
Quem todo o tempo é sempre presente.
Quanto menos me preocupar com o futuro, mais
do futuro conhecerei. E todo o passado começará a ganhar um sentido novo: ele
não mais me será feito de acontecimentos desconexos, mas será um rio único,
engrossando pelo fluxo contínuo dos seus inúmeros afluentes e dirigindo-se para
o grande mar, ao encontro da mesma água de que ele próprio é feito.
É isto a Prudência. Ela é tudo menos
colonizar o futuro de projectos e preocupações nossas. Também ela é amor,
apenas. Ninguém ama no futuro, nem no passado; só no presente se pode amar. É a
este presente que Jesus Se dirige quando fala, na parábola das dez virgens: as
prudentes só se preocupavam em ter, em cada presente, sempre as lâmpadas cheias
de azeite.
– Acho que entrei aqui numa contradição,
Mestre. Ajuda-me.
– Exprime a contradição.
– As virgens prudentes parecem ser
justamente aquelas que se preocupam com o futuro; as insensatas são justamente
aquelas que não pensaram na vinda futura do esposo.
– Disseste em algum lado que o amor não tem
janelas para o futuro?
– Não: disse mesmo que as tem bem abertas,
não só para o futuro, mas também para o passado.
– A Minha parábola diz em algum lado que as
virgens insensatas não pensavam no futuro?
– Não: diz só que elas não puseram azeite
nas lâmpadas.
– Pôr azeite nas lâmpadas o que significa?
– Amar o esposo. Estar ardendo em ânsia pela
sua chegada.
– As virgens insensatas não esperavam o
esposo?
– Esperavam, mas não o amavam.
– Não amavam porquê?
– Podiam até ter feito grandes projectos
para a vinda do esposo, mas eram projectos ocos, porque a única coisa que
interessava era terem que oferecer ao esposo quando ele chegasse, e não tinham.
– Tinham projectos, não?
– Ao esposo, quando chega, não interessam os
projectos da esposa, mas a esposa em si, com os seus encantos. Se os encontrar,
os encantos da esposa, ele saberá que eles foram construídos em cada presente,
para ele, apenas. Também por isso todo o passado da esposa lhe aparecerá cheio
do seu afecto e o encantará.
– Do futuro, o que esperavam as virgens
prudentes?
– Apenas que o esposo viesse.
– Sem projectos para o futuro?
– Nenhuns. Se os tivessem, não seria o
esposo que esperariam, mas a realização dos seus projectos.
São 3:02.
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