- Ah, Maria, que me está consumindo as forças todas esta Espera…
- E o que esperas encontrar depois da Espera?
- O nosso Sonho materializado.
- Matéria! Não estarás a dar importância demasiada à matéria?
- Não sei se é demasiada; sei que é muita. É como se todo o mundo espiritual estivesse desde a aurora dos tempos à espera de incarnar, de se materializar.
- Eh lá! Como se a matéria fosse a meta final da caminhada do espírito?
- Não sei… Talvez… Não é que o espírito desapareça para se tornar matéria, mas procura-a para se realizar plenamente, reencontrando a sua verdadeira natureza!
- O espírito vive desde sempre sem a matéria?
- Vive pelo menos em conflito com ela, desejando-a, mas incapaz de fazer com ela uma Unidade perfeita: ora a arrebata gulosamente, ora a rejeita, ora a exalta, ora a escraviza…
- Deixa ver se entendo… Tu estás vislumbrando não a espiritualização da matéria, mas a materialização do espírito!?
- O que eu estou vendo é a matéria continuamente maltratada, barbaramente agredida através dos séculos, tantas vezes, como se ela fosse a culpada das angústias do espírito.
- A matéria tem sido, portanto, a grande Vítima Universal!?
- Por aí, sim… Acho que foi isso que suscitou em Deus aquela louca paixão de que temos falado.
- A ponto de Se fazer matéria maltratada, barbaramente agredida!?
- Sim, a matéria deve ser tão importante, para Deus!…
- Já vi: é a espera pelo Dia da Libertação da Matéria que te está doendo tanto!?
- É. É mesmo essa a minha ânsia devoradora nunca satisfeita. Já viste, Maria, a agressão brutal que sobre a matéria temos exercido? Não a sentes gemer, calcada, mutilada, remodelada, tornada deficiência pura, em que já nada se vê da sua natureza original?
- Sim, isso é fácil reconhecer-se. E como sonhas a matéria liberta?
- Recompondo-se. Regressando pelo seu próprio pé ao seu ser original, que ninguém já conhece. Enchendo-se de cor, de vida, de harmonia. Espantando com a sua lucidez.
- Está bem. Agora diz-Me: a que vens tu chamando “espírito”? Parece ser ele o tirano que assim tratou a matéria!…
- E foi. A árvore nunca quis ser mesa. O rochedo nunca quis ser casa. A água nunca quis andar em canos, lavar sujeiras de toda a ordem…
- Então também no nosso corpo tudo aquilo que é matéria nunca quis ser aquilo que está sendo!?
- E quis? Quis cansar-se desta maneira, ser reprimida assim em todos os seus apetites? Alguma vez o nosso corpo material quis trabalhar?
- E onde mora, por onde anda esse espírito mau que tantas tropelias faz, pelos vistos impunemente?
- É a esse espírito que alguns chamam o nosso verdadeiro “eu”. Nós seriamos, na verdade, esse espírito, apenas; a matéria seria a sua habitação e companheira provisória, que ele abandonaria na morte.
- Então não admira que ela seja assim instrumentalizada arbitrariamente pelo espírito…
- Pois, Maria… Que achas? Quem somos nós?
- Vistas as coisas assim, somos…somos esta máquina de destruir que conhecemos!
- Ah, quando a matéria for liberta! Não achas que o próprio espírito ficará pasmado e se apaixonará por ela?
São 10:10!!
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