- Como seria o Amor entre nós, Maria, se não tivéssemos passado os séculos a destruir a Natureza?
- Sim, como seria? Não consegues imaginar?
- É difícil… Mesmo quando imaginamos o Paraíso, é segundo os nossos conceitos pervertidos que o vemos.
- O que é que não conseguimos imaginar, por exemplo?
- O Amor sem divisão.
- Divisão…como?
- A divisão que surge como resultado da apropriação. É o agarrarmo-nos àquilo que supostamente amamos e dizemos: Isto é meu!
- Fala um pouco do mecanismo da apropriação. Ele divide porquê?
- Porque ao apropriar-me de uma coisa eu estou a dividir aquilo que é meu daquilo que não é. Eu coloco um muro à volta da minha propriedade e isolo-me dos outros.
- Não acontece isso com toda as criaturas? Não tem cada uma o seu lugar próprio, diferente do das outras? Não limita o cão o seu território, expulsando os que dele se aproximam?
- Assim parece. Mas eu não sei se continuaria a ser assim se não existisse a Civilização. Não consigo medir qual foi a consequência do Pecado sobre os próprios animais.
- A delimitação de um território não é uma exigência da Harmonia, uma vez que nela cada um tem o seu lugar inalienável?
- Continuo a ter dificuldade em responder-Te… Não sei como seria se nós homens não nos tivéssemos sedentarizado. Caim, o sedentário, é justamente a expressão mais eloquente da Desordem que o Pecado provocou. Por isso lhe não aceitou Deus a oferta.
- Sermos nómadas como Abel é que é a natureza de todos nós?
- Natural seria não destruirmos a Natureza, forçando-a a girar à nossa volta. Se a Natureza fosse para nós a expressão do Amor de Deus, a nossa relação com ela seria sempre de veneração e agradecimento. Por ela caminharíamos de surpresa em surpresa e dela receberíamos o alimento necessário.
- Sempre é então verdade: seriamos naturalmente nómadas!?
- O conceito de nomadismo faz ainda parte da nossa construção mental, perversa como todas as nossas obras: também os nómadas, hoje, não tendo poiso certo, andam com a casa às costas e vão-se apropriando, como os outros, daquilo que podem, aonde quer que chegam.
- Não temos então nenhuma referência que nos permita vislumbrar ao menos como seria a nossa vida na Terra libertos do mecanismo da posse!?
- É muito difícil: por mais que tentemos descondicionar-nos, sempre acabamos por operar com os conceitos que nos foram implantados desde nascença.
- Difícil será, mas não é certamente impossível… Não és tu o Profeta do Impossível? Não se situa o Mundo que buscamos todo lá, no território do Impossível, no Desconhecido?
- É verdade. Por isso não podemos nunca dizer como será, muito menos como deverá ser, quando Jesus regressar; a única coisa que sabemos e podemos fazer é deixar-nos reconstruir como quem aceita jubilosamente ser convidado para uma Festa.
- E o Amor…como fica? Enquanto o dia da Festa não chegar, que faremos?
- Sempre e só o que dentro de nós Jesus nos disser, através do Seu Espírito, que é também o nosso Espírito regressando finalmente à nossa Carne, para a acompanhar até à morte, porque o seu destino é a Transubstanciação. Regressará então o Amor. E a Paz.
São 9:29!!
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