O homem é deveras complexo. Desde sempre ele nos intriga com o seu Mistério, tem sido o objecto preferencial de todas as nossas análises possíveis e até hoje continua levantado diante de nós como um enigma insondável - como um Mistério, afinal.
- Mas onde se situa o Mistério, onde está a fonte inesgotável do nosso pasmo, das surpresas contínuas, tantas vezes tão dolorosas? Do homem parece conhecermos hoje até à exaustão a matéria. De tal maneira que a manipulamos como se fosse obra nossa, a penetramos até ao cerne, a consertamos sempre que se desarranja, lhe substituímos peças por outras fabricadas por nós, com resultados muito satisfatórios. Mas é justamente nesta actividade manipuladora tão descontraída que acabamos por nos deter perante a íntima relação entre matéria e espírito, pela repercussão que no espírito tem o estado geral da matéria, em especial as mazelas, as lesões, as deficiências. Particularmente impressionante é esta unidade perante qualquer desarranjo ou lesão no cérebro: o “espírito” logo se ressente, parece descontrolar-se seriamente às vezes, chega a parecer morto, em casos de lesão particularmente grave.
Quem somos nós? O que é o espírito sem a matéria, em nós? Não é tão decisivo o poder da matéria sobre o espírito como o inverso? Que resta de nós quando a matéria se decompõe, na morte? Como viveremos, sem ela?
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