– 9:42
O 4 e o 2 juntos intensificam a ideia de anúncio. Trata-se de um anúncio que ultrapassa as palavras e se estende ao testemunho de toda uma vida: das escolhas, das atitudes, dos gestos, da simples expressão do rosto. Neste preciso momento ouço: Todo o teu ser deve dar testemunho como os céus, que proclamam a glória de Deus: como o firmamento, que anuncia as obras das Suas Mãos! (cfr. v.1). Assim claro. Assim sem mancha!
Olhei de novo o relógio, sem motivo algum, a não ser porque o meu Companheiro quis: 9:55. E o que Ele me sugeriu, com base naqueles algarismos, foi isto: Ele próprio é o perfeito Testemunho Humano da glória de Deus (expressa no 9). Humano porquê? Por causa do 5: nada exprimiu tão bem a Humanidade do nosso Deus como as Cinco Chagas que para sempre Lhe ficaram gravadas no corpo. Foi com elas, com esta marca indelével que testemunhou perante o incrédulo Tomé a Sua Realidade Humana. Por isso me estabeleceu Ele o 5 como Sinal de Si próprio, de que é indissociável o Corpo, a característica específica da Segunda Pessoa da Trindade. Por isso Ele, que é desde toda a eternidade Verbo, isto é, Capacidade Comunicadora de Deus ad extra e ad intra, tornou-Se no momento da Criação Voz e ao incarnar tornou-Se linguagem: não falou, apenas; nas escolhas, nas atitudes, nos gestos, nas expressões do rosto Ele foi Perfeita Testemunha da Glória e do Amor do Pai! É este radical testemunho que Paulo registou na conhecida afirmação: “Cristo fez-se por nós obediente até à morte e morte de cruz”! Não, não foi morte natural, nem morte por acidente: Jesus foi assassinado como malfeitor. É isto que quer dizer “morte de cruz”! Há mais um aspecto ainda que importa realçar: a “morte de cruz” remete para malfeitor público. Confrontado com Barrabás, malfeitor célebre, portanto, público, Jesus foi considerado malfeitor tão grande, tão perigoso para todo o povo, que Barrabás foi à vista de Jesus considerado inocente.
Jesus deu do Amor do Pai um testemunho tão eloquente, tão altifalante, tão público, como da Glória de Deus dão testemunho os céus, o firmamento inteiro! “Um dia transmite ao outro a palavra; uma noite à outra noite dá a notícia”. Não, não. “Não são ditos nem discursos de que não se perceba a voz: por toda a terra caminha o seu eco, até aos confins do universo a sua palavra”, tão claro, tão radical é este Testemunho!
Porque me conduziu Jesus para aqui, para esta interpretação deste Salmo? Nitidamente porque sim, porque quis. Como sei eu isso? Pelos Sinais que me forneceu: 4-2 e 5-5. À imagem do meu Mestre, também eu tenho que ser uma radical testemunha do radical Amor de Deus. Porque fala o Salmo, a seguir ao testemunho dos “céus”, da “lei”, dos “testemunhos”, dos “mandamentos”, dos “preceitos”, do “temor”, dos “juízos” do Senhor? Justamente porque a Voz da Criação se tornou Voz audível pelo coração do homem, ao fazer-se lei, testemunho, mandamento, preceito, temor, juízo do Senhor, a que se apõem os atributos de aprazível, fiel, recto, puro, verdadeiro, equitativo. Por isso observá-los reconforta o espírito, torna sábio o homem simples, deleita o coração, ilumina os olhos. E finalmente se diz que tudo isto, se for comido, é mais doce que o mel (cfr. vs. 8-11). Lido com olhos de Novo Testamento, este Salmo, depois de falar do testemunho dos “céus”, fala do testemunho da Voz incarnada de Deus, Jesus. Observar tudo aquilo é agora mais simples: é seguir Jesus. Seguindo-Lhe o estranho caminho, viramos Testemunhas Suas “até aos confins do universo”.
Mas é aqui que se situa uma oração minha várias vezes repetida, mas ainda ontem apresentada ao Senhor de forma mais veemente. Está aqui, chapadinha: “Quem poderá discernir todos os erros? Purifica-me das faltas escondidas”! Podia acrescentar aqui a oração inicial: Dá-me a Tua Paz, Jesus! Não é sossego, não é parança, não é comodidade o que eu estou pedindo; são decisões, são atitudes, são gestos, são expressões de rosto que correspondam com inteira precisão à Vontade d’Aquele a Quem eu me entreguei para ser refeito. Ora enquanto Ele nos não libertar inteiramente do homem velho, são duras e contraditórias as forças que nos acompanham no nosso caminhar. Então, porque nos sentimos imperfeitos e impotentes, paramos muitas vezes neste nosso caminhar e perguntamos no Silêncio: Onde está o meu erro? Onde está a minha culpa? Em resposta, apenas, esta sensação de disformidade. Então só nos resta, como ao salmista, admitir que há em nós “faltas ocultas” e pedir ao Senhor que as lave, embora delas não tenhamos consciência.
Ter consciência das nossas faltas é também um Dom de Deus!
E reparo, surpreendido, como neste contexto o salmista refere a soberba. Eu chamo-lhe ambição e vaidade e também eu a considero o grande perigo nesta caminhada. É, pois, também a minha a oração do salmista: “Preserva também o Teu servo da soberba, que ela não domine sobre mim. Então serei perfeito e absolvido das grandes faltas”.
É pelo caminho contrário ao do mundo que atingimos a perfeição. A este caminho chama-se Humildade. A Humildade lava. Ela é, na nossa vida, a Cruz do Senhor que destruiu a morte e tirou os pecados do mundo. É a Humildade que nos absolve.
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