31/1/96 – 5:07
Mas tinha acordado às 4:00. Falava-me da Presença do Espírito naquilo que escrevo. E readormeci. Porque não me levantei logo? Às vezes interrogo-me se não serei em verdade culpado de negligência. Tenho um medo muito vivo de perder o meu Mestre. Mas Ele, ao acordar agora, lá estava dando-me a Sua Paz. Confio na Sua Palavra, tantas vezes repetida, de que não me abandonará, mas desconfio de mim que tão facilmente, como ainda agora, vagueio por sítios vários, sem importância, sem sentido. Que frágil sou! Pela minha lógica, era já tempo de o Senhor me ter absorvido a mente, me ter incendiado o coração. Quanto tempo, meu Deus, demora o meu regresso! Porque é que tudo prende ainda a minha atenção, se mesmo nada neste mundo me interessa, a não ser anunciar nele o meu Jesus, partilhar com toda a gente esta montanha de coisas que Ele me ensinou? Mas nem isto o Senhor me concedeu ainda: nem um sequer se cruzou comigo, vindo do mesmo Deserto, trazendo a mesma sede; é em absoluta solidão que caminho, preso só a frágeis Sinais, agarrando com força a orla do manto do meu Mestre, só no coração uma ânsia enorme de desta vez O não deixar perder.
– Vem, Jesus, vem depressa, que isto já é encanto, mas ainda não és Tu, conforme eu Te sonho em mim. Vês? Aqui tens a prova: ainda agora, no meio desta minha conversa Contigo, me fugiu o espírito de Ti! Como é isto possível, Mestre? Pareço uma criança distraída, de olhos e coração presos a milhentas coisas ainda!
– Nada mais quero de ti do que o amor de uma criança sempre.
– Então é porque eu não sou ainda criança que Te fujo assim?
– É. Que sejais crianças é tudo quanto o Pai quer de vós.
– Não! Não é possível: estava outra vez distraído!…
– Eu gosto de ti assim.
– Assim? Mas isto é uma falta de respeito para Contigo! Eu não suporto que estejam a falar comigo e a olhar para tudo à volta.
– A sério? Acho que não é assim: se for o teu neto que te faça isso até o achas engraçado. Não lhe levas a mal, pois não?
– Não. E não Te importas de que as pessoas tenham para Contigo só assim uma atenção de menino?
– Repara: não te basta que o teu neto esteja à tua beira, sentado nos teus joelhos, mesmo que esteja sempre com a cabeça à roda a ver tudo e só de vez em quando te faça uma pergunta, te dê um repentino beijo, um “distraído” beijinho?
– É verdade.
– Pois todas as vezes que voltaste a Mim depois de agora teres andado vagueando, foi um beijinho que Me deste.
– Mas isto é tudo tão leve…
– E querias que fosse tudo sempre pesado?
– Queria que me absorvesses por completo a atenção.
– Será assim um dia. Por agora é inevitável que a carne te prenda.
– E basta-Te um amor assim, de menino?
– É tudo o que eu desejo: que o vosso amor seja um amor de menino; os meninos têm um olhar distraído, mas o coração sempre preso aos pais.
São 7:09.
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