Reparai, gentes: se não fosse a Cidade, que preocupações teríamos nós? Se não fosse a Cidade, tudo aquilo em que poisássemos o olhar nos lembraria o nosso Criador. Uma casa prende-nos a atenção em nós próprios; uma estrada nunca nos remete para Deus – ela é retinta obra das nossas mãos…
– Onde queres chegar com estes pensamentos que me deste, Mestre?
– Não te esqueceste ainda do lugar em que nos encontramos, pois não?
– Como haveria de me esquecer? Ele oprime-me tanto…
– De que é feito o Deserto?
– De casas, de estradas e de vazio de Ti, nos corações.
– A tua vida, portanto, decorre em casas, em estradas e no vazio de Deus!?
– É verdade, Mestre.
– E a Minha vida decorre onde?
– Tu estás aqui comigo – confirmaram-no ainda há pouco os Sinais ao acordar. A Tua vida decorre, portanto, em casas, em estradas e no vazio de Deus. Sinto que estás aqui comigo de verdade, que não estás aqui comigo a fingir.
– Eu, o Criador das árvores, vivo em casas que, para se erguerem, derrubaram as Minhas árvores?
– Vives.
– Eu, o Criador das ervas do campo e dos lírios que nele crescem, percorro estradas que Me esmagam as ervas e os lírios?
– Percorres.
– Eu, o Criador da Alma humana à Minha imagem, cruzo-Me com tantos seres humanos, sem neles ver a Minha imagem, vazios de Mim?
– Cruzas.
– E porque Me não vou Eu embora daqui, fazendo desaparecer este planeta, se planetas os tenho Eu incontáveis por todo o espaço?
– Ninguém que se ponha a pensar nisso entenderá porque assim procedes. Imaginamos que seja um louco Amor que tenhas a este planeta, esta migalha da Tua imensa Glória. Mas ninguém entenderá porque tens assim por esta insignificância esse Amor tão louco.
– Olha: já encontraste alguém que pensasse na loucura do Meu Amor pela Terra?
– Não. Sei que houve muitos no passado que pararam a contemplar a Tua Loucura e há-de haver no presente muitos também assim abismados com este Teu Mistério. Mas eu pelo menos, em toda a minha vida, não encontrei ninguém que mo manifestasse.
– Nem quando vivias entre os frades?
– Nem nos frades.
– Então esses “muitos” de que falaste hão-de ser muito pouquinhos em todo o planeta.
– Sim, Mestre, hão-de ser muito pouquinhos entre os vários biliões que povoam a terra.
– Sabes que Eu ando aqui há dois mil anos e antes de Mim enviei Mensageiros Meus a ver se alguém ouvia com o coração o Meu pedido para que reparásseis neste louco Amor que vos tenho.
– Sei.
– E acreditas em que esses vários biliões são todos filhos Meus, a Mim semelhantes?
– Não tenho a mínima dúvida.
– E não Me queres dizer nada, agora?
– Que não sei o que hei-de fazer para corresponder à Tua Loucura.
– Já fizeste tudo o que te pedi.
– Era escrever? Só?
São 6:09.
Jesus está a levar-me de novo à Escritura Santa, depois de longo tempo de ausência. Não O entendo, nem é preciso: basta-me saber que tudo aquilo que Ele está fazendo em mim é “muito bom”, conforme o início do Génesis diz das coisas que sucessivamente iam sendo criadas. Quer porventura o vaso pedir contas ao oleiro por o ter feito assim como fez?
Clara, muito clara, se me está tornando esta verdade: a ferida mais funda do Pecado foi termos perdido o entendimento das coisas…todas!
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