– Mãe, abençoa os meus Sinais, já que são eles a minha vista e o meu ouvido. Abençoa a minha dor de não Te ver, de não ouvir o timbre da Tua Voz, de não ouvir nem ver o Céu em que me sinto envolvido. Abençoa este meu permanente tactear na escuridão…
– E que esperas da Minha Bênção, Meu menino?
– Espero um assombroso milagre: que a própria escuridão se dissipe e o Sol desça, livre, sobre a terra.
– O que é o Sol?
– É a visão clara.
– O mal dos homens é não ver?
– É. A Serpente prometeu a Eva que, se comesse o fruto, se lhe abririam os olhos…
– Foi preciso então convencê-la de que ela tinha os olhos fechados!?
– É verdade, Mãe! E é este o incompreensível absurdo do Pecado. Eva era tão feliz…Como foi possível ela convencer-se de que a sua felicidade era uma felicidade falsa, de que Deus a estava enganando?
– Foi justamente a sua indizível felicidade que a levou à ambição de se apropriar dela para a gerir a seu bel-prazer.
– Os olhos com que via eram os Olhos de Deus?
– Pois eram. Também na visão ela era feita à imagem e semelhança de Deus.
– Então a cegueira dos homens consiste em pretender dispensar a visão de Deus!?
– Sim, consiste no absurdo de querer ver o que Deus não vê!
– Então é tremendamente difícil converterem-se os homens: eles têm que pôr em causa toda a sua visão das coisas, tudo o que a partir desta visão construíram! É preciso convencerem-se de que tudo quanto fizeram foi com a visão de um cego!
– Sim, só um cego poderia ter feito o que o homem fez!
– Destruir, Mãe! O que o homem fez foi destruir!
– É claro filhinho. Vês?
– Por isso me quer o Pai suportando há tanto tempo este tactear na escuridão – para através de mim restituir a vista à Humanidade?
– Pois é. Tu pediste-Lhe isso mesmo, lembras-te?
– Quando?
– Quando pediste a Jesus que fizesse de ti um instrumento de alta precisão nas Suas Mãos.
– Quando fiz aquele pedido ao Teu Filho, o Pai pôs sobre mim esta cruz?
– Sim, Meu pequenino. Queres continuar a levá-la?
– Quero, quero, Mãe! Quero levá-la até nela ser crucificado. Ampara-me, Mãezinha, para que eu não desfaleça pelo caminho, para que eu não desista antes da crucifixão.
– Sentiste medo agora mesmo, não sentiste?
– Senti, Mãe. Por um momento duvidei se aguentaria e quase ia fazendo o pedido do Teu Jesus no Getsémani: “Pai, se é possível, afasta de mim este cálice”… Mas diz-me, Mãe: quando peço alguma coisa ao Teu Filho, é o Pai que ma dá?
– É.
– Jesus não pode dar-ma?
– Tudo o que Jesus dá, vem do Pai. Ele é o Dom Total do Pai. Não te recordas de o ter lido no Evangelho?
– Jesus não pode dar nada, de Si mesmo?
– Jesus é, em Si mesmo, Dádiva pura, inesgotável, para o Pai!
– Ah! Tudo o que pedimos a Jesus, Ele o oferece ao Pai como dádiva?
– Tudo o que pedirdes a Jesus vos torna um só com Jesus oferecendo-Se continuamente ao Pai.
– E o Espírito? Quem é Ele, Mãe, neste Dar e Receber?
– Ele é o próprio Amor do Pai e do Filho nesta mútua Dádiva.
São 4:52!!
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