– E olha, Jesus, parecem-me cada vez menos interessantes estas páginas, a todos os níveis: não há nenhuma revelação espectacular, repito só as heresias que já repeti, a própria expressão parece agora menos solta, menos viva, mais enrolada.
– Porque não deixas então de escrever? Uma escrita nessas condições não está a afastar as pessoas de Mim, em vez de Me levar a elas?
– Assim parece, Mestre. Mas eu que hei-de fazer? Tu ainda não me mandaste parar e além disso desistir seria deixar de acreditar em que o Teu Mistério é inesgotável. E eu só paro quando Tu mandares e acreditar na imensidão insondável do Teu Mistério eu acredito cada vez mais.
– Em resumo: podes cada vez menos?
– Sim, cada vez menos.
– E acreditas cada vez mais?
– Também é verdade: acho que nem os demónios do Inferno todos juntos me conseguiriam destruir a Fé no que escrevo, o Amor com que me sinto agarrado a Ti.
– Então diz-Me: podendo cada vez menos, tens feito tudo o que podes?
– Isso é que eu já não sei ao certo… O momento que vivo é novo para mim: eu poderia certamente fazer mais coisas, exercendo maior violência sobre mim, mas até esta violência estou à espera de que sejas Tu a exercê-la se e quando for necessária.
– Estás à espera dela, de maior violência?
– Estou. Tenho-Te pedido muitas vezes que me não deixes afastar da Tua Cruz, que tornes em mim bem visível o Teu Sacrifício. Já me ensinaste que a causa da ruína da Tua Igreja foi ter esquecido a Tua Cruz.
– E Eu não tenho satisfeito o teu pedido?
– Acho que tens.
– Tenho então exercido sobre ti a violência que Me pedes!?
– Agora que perguntas… É verdade que eu sofro…a vida que levo é tudo menos uma vida regalada.
– Que mais te está custando suportar neste momento?
– Tanta coisa… Talvez a espera…todo este viver numa terra cada vez mais estranha, numa pátria que não é a minha…
– Mas tens dito que não queres sair dela!
– É verdade! Prende-me a ela um misterioso apego… É como se eu fosse um remédio e ardesse na ânsia de me derramar todo nela, até a envolver toda e me afundar nela até às suas mais fundas entranhas.
– Para quê?
– Para a curar toda, até à raiz, e para a ver outra vez como Tu a sonhaste.
– O que tu queres, afinal, não é abandoná-la!
– Não, não é abandoná-la. Mas devo confessar-Te que, depois de a ver inteiramente ao Teu gosto, depois de ver o Pai olhando-a, feliz, eu queria mais, eu queria estar Contigo noutros espaços, noutros mundos, queria, sobretudo, avançar para a Tua Intimidade, ser inteiramente absorvido no Teu Coração, essa Fonte que me sacia e essa inexplicável Sedução que me arrasta e aprisiona e prendendo-me me liberta! Já te apareceu, Mestre, alguém mais ambicioso do que eu?
– Acreditas assim na cura total da terra?
– E do Universo inteiro: ele está à espera do Homem, para que o cultive e guarde.
– Mas isso demorará muito tempo, não? Terás ainda muito que esperar e sofrer…
– Sim, mas eu acredito em que fui feito à Tua imagem e do Pai e do Espírito e que é a mesma agora a Tua e a minha Mãe. Por isso estou já sendo resgatado do tempo e o Teu Sonho vejo-o já realizado, estou sendo já purificado no meu coração e a minha Mãe é já o meu Encanto e é já invencível o Amor que Te tenho, e ao Pai, e ao Espírito!
– Eu te abençoo, Meu menino. Na tua incapacidade actual Eu semeei já a Minha Força!
São 6:51.
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