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Creio estar perante a Grande Tentação e também perante o Grande Dom do meu Senhor. Como se Satanás tivesse dito: É agora ou nunca! Então será nunca! — respondo eu aqui prostrado, ajoelhado nesta madrugada de Páscoa, imagem pura da Desilusão.
Nem sequer atino com a escrita, estou demorando tempos infinitos a formar uma frase. É como se eu tivesse sido literalmente abandonado ao Poder das Trevas e Satanás em pessoa me estivesse torturando. Mas eu, nesta câmara de tortura, repito: Então é nunca! Então Satanás aperta mais as paredes da câmara, feitas de gelo. E conseguiu já, durante meio segundo, introduzir no meu coração a revolta.
Uma sensação de revolta contra Deus, que assim me não dá o que me prometeu, que assim me não paga toda a dedicação que para com Ele tenho tido! Isto é, Deus enganou-me, como um comerciante que me tivesse vigarizado! Isto é, eu merecia, eu acumulara méritos que mereciam uma recompensa! Uma recompensa proporcional: uma recompensa bem gorda, bem boa!
Satanás pára por momentos o avanço das paredes geladas e cruza os braços, a pensar noutra. Bem podes matutar! — respondo-lhe eu na minha luta. — Se desta vez te dei só meio segundo de atenção, desconfio que para a próxima nem sequer chegarás à minha beira. Não, ele não desistiu ainda e matuta, matuta. Os blocos de gelo manifestamente não resultam — deve estar ele concluindo.
E não resultam! — digo eu, introvertendo-me, teimoso, olhando a luzinha da minha Fé que se mantém acesa, e é agora mais uma brasa que eu tento isolar do gelo que me rodeia, uma brasa de um vermelho dolorido, mas muito vivo… Ela não se vai apagar, não, a brasa viva da minha Fé! Podes ir buscar mais gelo, podes ir buscar todo o gelo do mundo, podes cerrar ainda mais a tua noite, Satanás: quanto mais negrura puseres à minha volta, mais viva brilhará a brasa da minha Fé! Podes desistir, Assassino: estás já desmascarado. Poderias ter alguma chance, se eu não soubesse que eras tu; mas agora… bem podes espolinhar-te de raiva, Mentiroso!
— Jesus, perdoa eu ter estado a dialogar com Satanás. Eu sei que não se lhe deve passar cartão, porque isso é o que ele quer: puxar-nos para o seu terreno, levar-nos a fazer o seu jogo. Mas desta vez sinto que foi necessário e que Tu o permitiste para que fique registado o testemunho desta luta, para que fiquem desmascaradas as tácticas do Teu Inimigo e para que Tu possas assim triunfar por completo em mim, em todos aqueles que através de mim ouvirem a Tua Voz! Se for do Teu agrado, Senhor, deixa-o continuar a acarretar gelo, a ver se ele esmurra o nariz e desiste desta grotesca empreitada em que se meteu. Não Te peço, meu Jesus, que me livres da tentação, mas só que me não deixes cair em nenhuma cilada do Tentador. Bem hajas pelo aviso dos algarismos. Quero que esta Noite da Tua Ressurreição fique bem assinalada em mim pela Tua completa Vitória!
São 7:27!
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