14/4/95 — 2:53 — Rossão MB
Jo 19, 23ss
Duas horas depois de me ter deitado. Eu tinha ido à capelinha da Cruz. Estava um luar tão brilhante, que eu podia ler. Creio que foi o Senhor que para lá dirigiu os meus passos por volta das 23 horas. Fui sempre rezando ao mesmo tempo que ia lendo, na Vassula, o dia… 5 a 29 de Agosto de 1990, em que o próprio Deus faz um comentário aos Seus Dez Mandamentos e ao comportamento dos homens perante Eles. Pedi ao Senhor muitas coisas, neste aniversário da noite em que Ele foi entregue, disse-Lhe que gosto muito d’Ele, que me fizesse participar na Sua agonia desta noite.. Lá em cima, junto à capelinha, pedi-Lhe, ajoelhado, que me desse Sabedoria para governar o Seu Povo conforme a Sua exacta Vontade. E pedi-Lhe muitas coisas mais. Sobretudo que aumentasse a minha Fé. Foi até esse o motivo que me fez meter ao caminho, àquela hora da noite, sozinho: eu queria que a minha Fé superasse todos os medos. Dizia-Lhe eu que, se O sentisse em verdade junto de mim, nenhum medo me entraria no coração. Como nenhum medo há numa criança que caminha junto do seu pai. Fui, pois, tranquilo. Mas não aconteceu ainda aquilo que eu desejaria: sentir o sofrimento do meu Senhor no Getsémani. Então oferecia-Lhe toda a minha frieza e incapacidade, a minha vaidade e ambição. Regressei cerca da meia-noite, perguntando-Lhe ainda porque me não falou do Mistério da Eucaristia esta noite instituído. Mas abria os braços, respirava fundo e pedia ao Espírito que encharcasse de Vida todas as células do meu ser. Perguntei-Lhe, por fim, como queria que passasse esta noite. E Ele acordou-me à hora que assinalei, talvez servindo-se de um forte vento que sopra na janela e faz bater a porta.
São agora 3:51. Continuo lento, pesadão, o espírito como que embotado, envolvido em névoa. Por isso não consigo perceber o que me quer o Senhor com o texto que me indicou. Trata-se, de facto, de um dos episódios da Sua Paixão, mas tão marginal, que nem sei porque é que o Apóstolo João o assinalou; é a referência às vestes de Jesus: “Tendo os soldados crucificado Jesus, tomaram as Suas vestes – de que fizeram quatro partes, uma para cada soldado – e também a túnica. A túnica, toda tecida de alto a baixo, não tinha costura”.
A minha Bíblia tem uma nota a este v. 23: “Talvez João queira revelar que Jesus é o nosso Sumo Sacerdote. A túnica dos sacerdotes devia ser sem costura”.
– Tu és o soldado a quem coube em sorte a Minha túnica – diz-me agora Jesus – Veste-a e não a manches!
E o meu coração parece não ter força nenhuma para vibrar com o Dom que me está sendo entregue. Recebo a túnica sem a emoção que seria de esperar, meio aparvalhado, bronco. Meto-a debaixo do braço e vou-me embora, olhando para ela com olhos lassos e baços, meditando vagamente no seu significado, sem ter verdadeira noção do que aqui levo. Mas agarro-a bem, ai isso agarro. Vou guardá-la em sítio escondido e digno quanto possa ser.
E só agora, lentamente, pasma o meu coração grosso, amorrinhado. Nunca me poderia passar pela cabeça que um episódio “tão marginal”, se pudesse tornar para mim tão fulcral!
– Jesus: Do fundo da minha letargia, através do meu ser tão opaco ainda, eu, como posso, queria dizer-Te que Te amo. A sério: amo-Te muito. Não tenho mesmo mais nenhum amor sobre a terra. Tenho é algumas fixações ainda, a isto e àquilo, umas menos, outras mais fortes, mas Tu vais, à Tua maneira, segundo a Tua espectacular Pedagogia, cortar-me todas as amarras que me prendem ainda ao cais. Não, não é para fugir da terra; é para ir ao mar recolher todos os náufragos, reunir todos os que há muito sonham, percorrendo a Tua Imensidão. Depois quero voltar e hei-de voltar, meu Senhor. Falarei às gentes da Tua Imensidão, porei à disposição das multidões a minha vida para encaminhar para Ti todos os corações que quiserem encontrar-Te. Faremos depois a Grande Festa, meu querido Senhor! E Tu estarás ali no meio de nós sem que ninguém pergunte mais por mim, por nenhum dos corações que Te encontraram: só Tu serás centro e alvo de todos os olhares. Porque Tu serás a Felicidade de todos os corações!
São 4:41!
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