21/11/96
– 1:39
O facto de o meu pensamento não ter ido para
Jesus logo ao acordar alarmou-me: não era assim há uns tempos, não era
certamente assim naqueles primeiros tempos em que, mal os meus olhos se abriam,
já me acordava alvoroçado o coração, como nas primeiras paixões dos enamorados.
Que quer então agora isto dizer?... E de novo estava divagando já! Que se
passa? Eu estou fugindo de Deus? Estagnou o meu processo de conversão? Que
consistência e que autenticidade têm tantas declarações de amor gravadas nestas
páginas, ontem ainda por exemplo, se ao acordar o meu pensamento não vai para
Aquele que digo amar?
– Que é isto, Mestre? Deixa-me entender o
que se passa comigo. Explica-me este estranho comportamento da minha alma. Eu
tenho sido falso?
– Se tens sido falso, são falsas todas estas
quatro mil páginas manuscritas. Não podes ser falso quando dizes que Me amas e
ser verdadeiro em tudo o resto que escreves. Tenta resumir numa palavra todos
estes textos.
– Amor?
– Porque hesitaste? Pode ser outra coisa
qualquer?
– Não. Se não for amor aquilo que aqui está
escrito, então é tudo obra de Satanás.
– Porquê?
– Porque em cada página aqui se declara que
tudo o que fica escrito vem de Deus; se for falsa esta declaração, só pode ser
um sacrilégio.
– Mas não pode ser apenas uma inconsciente
leviandade destinada ao cesto dos papéis?
– Sinto que não, mas não Te sei responder
porquê.
– A que horas te levantaste?
– À 1:39.
– Há quanto tempo te levantas assim a meio
da noite para escrever?
– Há dois anos e três meses.
– Faz a conta. Quantas noites dá?
– Mais de oitocentas.
– E quais foram os resultados destas
oitocentas noites de escrita?
– Alguns insultos, muito cansaço, muitas
lágrimas da minha parte, muitas dúvidas, muitos momentos de verdadeiro encanto
e pasmo… Ah, e alguns milhares de escudos gastos. Para já foi só isto.
– E “só isto” pode ser “uma inconsciente
leviandade”?
– Acho sinceramente que não. Mas a minha
sinceridade não convence os sábios. Eles querem provas e eu não as tenho.
– E que te importa provar seja o que for aos
sábios?
– Tu gostas deles tanto como de mim…
– E é com provas que eu os amo?
– Tu desces a toda a miséria em que nós nos
encontramos.
– As provas são a miséria em que eles se
encontram?
– Estou vendo assim. As provas, as
demonstrações, as deduções lógicas, são o chiqueiro em que eles continuamente
chafurdam.
– E para os trazer ao Meu Coração eu devo
fazer-Me também para eles prova e demonstração e dedução lógica?
– Isso eu não sei, Mestre. Mas atrevo-me a
pedir-Te que Te faças aquelas coisas todas que acima de tudo Te devem repugnar,
se só assim lhes puderes ressuscitar os corações. Se quiseres serve-Te de mim,
embora, como tu bem sabes, eu não tenha jeito para aquelas coisas. Mas olha,
Mestre: talvez usando os sábios já convertidos pela via do coração… Desculpa…
Porque Te estou eu a dar sugestões?
– E porque não?
– Tu sabes tudo, Mestre; não precisas de
sugestões!
– Ah, Meu Profeta, não entendeste ainda a
Minha Incarnação!...
– Estou vendo agora: ela não fez apenas de
ti nosso Irmão; ela fez também de nós irmãos Teus! Meu querido Mestre! É por
isso que Tu tantas vezes nos pedes, através da Vassula, que digamos “nós”?
– Ah, se soubésseis como Eu tenho sede de que
sejais Meus irmãos…
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