– Mãezinha, que tal vou eu? Estás contente
comigo? Tu sabes que, perante esta dificuldade que tenho em levantar-me, eu me
perguntei se não seria razoável acabar com as vigílias.
– E mais outra hipótese estás pondo agora,
não?
– Estou, Mãe, e mais uma a juntar aos
milhares de vezes que já a coloquei: perante a minha frieza interior, eu admiti
que isto que escrevo agora é só mais um diálogo forjado pela minha imaginação.
– Pobre menino! E porque não paras agora
mesmo com as vigílias e com a escrita?
– Porque não conseguiria: era como se
estivesse traindo Jesus. E depois, tal qual o meu anjo Simão, eu perguntaria: A
quem hei-de ir? É que disto eu não duvido: só Jesus tem palavras de vida
eterna. Perante Ele, todos os mestres deste mundo são charlatães, todas as
doutrinas são vazias.
– Tirando então estes momentos de dúvida,
crês em que tudo quanto escreves são palavras de vida eterna?
– Ah, Mãe, essa pergunta, se não fosse o
gelo de que pareço ser feito, provocaria um sismo dentro de mim. Porque a
fizeste?
– Porque nada deve permanecer escondido.
– E como queres que te responda, Mãezinha?
Não conheço nenhuma Profecia que apenas assim dê conta, como um repórter, do
que se passa dentro de um único coração.
– A Vassula, por exemplo, não relata apenas
o que se passa dentro do seu coração?
– Ah, mas aí é o próprio Jesus que fala,
ditando-lhe as palavras que ela deve escrever.
– Responde-Me a duas coisas. Primeira: não
acontece o que ela escreve apenas dentro do seu coração?
– Acontece.
– Segunda: quem te dá as palavras que aqui
escreves?
– Não te sei responder.
– Porquê?
– Porque também os jornalistas e romancistas
escrevem muitas palavras que não trazem nem uma gota de vida eterna. E também
todas aquelas palavras lhes vêm de algum lado. Desculpa, Mãe, tenho a sensação
de que Te estou ofendendo.
– Porquê, filhinho?
– Parece que estou a refilar Contigo e não
suporto magoar-Te
– Achas que também os romancistas não
suportam magoar as suas personagens?
– Ah! Não tinha pensado nisso… De facto, as
minhas personagens são Pessoas e eu amo-As e sinto-me amado por Elas.
– De quem são as palavras que escreves, Meu
menino?
– Do Amor!?
– Porque interrogas ainda? Procura no teu
coração: de quem mais poderiam vir?
– Neste momento não encontro mais ninguém
senão mesmo o meu único Amor, em Quem Te amo a Ti, e o Pai, e o Espírito. Mas
diz-me, Mãe: não podem vir estas palavras da minha vaidade?
– Vaidade é vazio, Meu sábio. Não dizes que
amas?
– E a frieza que sinto?
– Não será vaidade, a frieza?
– Vaidade? Não, não pode ser.
– Então o que é a frieza?
– Ausência de amor.
– Então conclui, Meu pequenino.
– Esta frieza só a sente quem ama.
– Porquê, filhinho?
– Porque toda ela consiste na mágoa de não
amar ainda.
– Donde te vêm as palavras que escreves, Meu
pequenino Profeta?
– Do amor e da mágoa de não amar.
– Nascem todas daí as tuas palavras?
– Acho que nascem.
– Então vê: donde te vem o amor?
– Só pode vir de Deus.
– E essa sede de amar, donde vem?
– Só pode vir de Deus.
– O que é um profeta?
– É aquele que fala palavras de Deus.
– Gostas de Mim, Meu pequerrucho?
– Gosto. Muito.
– Acreditas em que Eu sou a Mãe de Deus?
– Acredito.
– E tua Mãe?
–
Acredito.
– E em que gosto muito de ti?
– Acredito. Disso não tenho a mínima dúvida.
– Então sendo Eu Mãe de Deus e tua Mãe que
gosta muito de ti, donde poderia ter vindo este diálogo?
– De Deus. Do Amor.
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