17/11/96
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“…disse-Lhe: tudo isto
Te darei se, prostrado, me adorares” (Mt 4, 9).
– E agora, Mestre? É muito difícil ver
nestas palavras a Tua resposta ao meu pedido.
– Perguntaste-Me se estavas seguindo com
fidelidade os Meus Caminhos…
– Foi.
– Que pretendia Satanás de Mim com aquela
fabulosa oferta?
– Impedir que seguisses o Teu
Caminho.
– De que maneira?
– Oferecendo-Te outro.
– Sim. Repara: a táctica de Satanás é
seduzir. Ele cria o vazio oferecendo coisas.
– Ah! Por isso nos encharca de publicidade,
nos nossos dias!?
– Não parece ele o dono do mundo?
– Tudo quanto a nossa Civilização construiu
lhe pertence?
– Absolutamente tudo.
– Não é o que dizes, Mestre, um exagero como
o de ontem ao falares do estado de degradação em que o corpo e a alma humana se
encontram?
– Não, não exagero. É a pura Verdade. De tal
maneira vos rodeastes das obras das vossas mãos, que já não concebeis a terra
sem elas.
– Mas diz-me: tudo-tudo o que fabricamos vem
do pecado?
– Vem.
– Tudo-tudo?
– Sim.
– Mas, Mestre, não fabrica também a ave o
seu ninho e a aranha a sua teia?
– O ninho da ave é só uma flor de que nasce
um fruto. Saído o fruto, cai a flor.
– E a teia, Mestre?
– A teia são só as mãos com que a aranha vai
buscar o seu alimento.
– Então para que serviria toda a habilidade
que deste ao homem?
– Para guardar e conservar o Jardim
do Éden.
– Sem nada nele alterar?
– Sem nada-nada alterar. O homem foi posto
no Jardim para o cultivar, isto é, para o levar à máxima perfeição.
– A perfeição do Éden é a ausência de toda a
dor?
– E a total liberdade e felicidade de todos
os seres.
– Explica-me então agora, Mestre, porque
escolheste este texto para me dizeres se ando ou não nos Teus Caminhos.
– Gostaria mais que fosses tu a dizer-Mo.
– Eu? E como saberei eu se Te sou fiel, se
tantas vezes me vês prostrado diante de Ti, com o peso das minhas apreensões e
das minhas dúvidas?
– Não sabes se Me amas?
– Isso eu sei. É a única certeza que tenho:
eu gosto muito de Ti.
– Se o proprietário deste mundo to viesse
oferecer todo, tu trocavas o amor que Me tens pela posse de toda a riqueza e de
todo o requinte da Civilização?
– Não.
– E pela fama e pela glória deste mundo?
– E que fama e que glória posso eu ter sem
nenhuma das riquezas deste mundo?
– Não podes apegar-te apenas a “valores”
espirituais?
– Não sei, Mestre. Foi sempre esse o meu
medo. Já me apercebi de que eu posso, por exemplo, procurar o louvor do mundo
justamente mostrando desprendimento de todas as riquezas materiais. Como faço
para não cair nesta autêntica armadilha?
– Amas-Me, Meu pequenino companheiro?
– Com todas as capacidades que em cada
momento eu tenho, tu sabes, Mestre.
– Então como posso Eu resistir ao encanto de
um amor que Me dá tudo o que tem?
– Que queres dizer, Mestre?
– Que desfarei todas as armadilhas diante de
ti.
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