13/11/96
– 9:45
Mais uma vez hoje os algarismos me pedem que
revele Jesus. E qualquer coisa de novo há-de ser o que me pedem, nem que a
Novidade o seja só para uma única criatura sobre a terra, porque O Mistério de
Jesus é todo o Mistério de Deus revelado aos homens.
– Guia-me, Mestre. Há tantas coisas dentro
de mim, dignas de registo…
– Outra vez voltou aquela sensação no teu
coração…
– Sim, uma terna afeição por Ti.
– Quero que registes isso de que de repente
te lembraste.
– Que deixei esquecida na escola uma coisa
que deveria ter trazido ontem: era comida para o Snupi.
– Regista ainda o que agora sentiste.
– Tu és perfeito, Mestre! Nunca julguei que
o esquecimento da comida para o cão viesse a propósito da afeição que por Ti
sinto: eu achei aquela lembrança repentina como um inexplicável disparate.
– E porque veio a propósito, aquela
lembrança?
– Vejo agora: porque me conduziu à afeição
que sinto pelo Snupi.
– Regista mais essa associação que agora de
repente fizeste.
– O Snupi é uma outra forma de estares
presente na minha vida.
– De que forma?
– Através dele desvendaste-me coisas
inauditas do Teu Mistério.
– Diz uma delas.
– Arrombaste-me as fronteiras talvez do
maior tabu que Satanás criou na Humanidade: o prazer sensual.
– Como procedeste, neste caso, para que tudo
isto te fosse revelado?
– Seguindo o cão. Respondendo aos seus
apelos e sinais, a começar pelo apelo inicial para que lhe desse de comer.
– Ainda ontem te lembraste do Snupi a
propósito do que te estava revelando…
– Sim. Verifiquei que eu segui os caminhos
do cão pela bouça e ele surpreendeu-me pelas veredas que escolhia, pelas
atitudes que nelas tomava, pela forma como me obedeceu com espantosa prontidão,
logo da primeira vez, quando desci à estrada para me ir embora e lhe disse:
Snupi, para aqui não! Vai lá para cima! – e ele, embora com ar surpreendido,
ainda olhando para trás por duas vezes, regressou ao seu poiso habitual! O
Snupi é bem a imagem daquele que se afeiçoou a Ti com inquebrantável
fidelidade, porque inicialmente lhe mataste a fome que o roía. E eu sou neste
caso imagem Tua na afeição por esta criatura “irracional”, ao aceitar os seus
caminhos e ao deixar-me por ela surpreender. Quando acreditamos em Ti, não há
nada na nossa vida em que não estejas presente.
– Sabes o que os teus irmãos sábios deste
mundo vão pensar disso que escreveste, não sabes?
– Pois sei, Mestre. Vão ver nisto
precisamente uma prova da análise que fazem: eu estou-me afastando deste mundo
– da “realidade”, dizem eles – e estou criando um outro mundo, inteiramente
imaginado, fantasioso, para onde estou transferindo todas as minhas frustrações
afectivas, todos os meus sonhos megalómanos não realizados.
– E queres responder alguma coisa a esses
teus amigos sábios?
– “Amigos”, Mestre?
– Muitos deles poderão até sentir uma
verdadeira afeição por ti…
– Sim, Mestre. Já me tem acontecido:
olham-me às vezes com um certo ar indefinível de pena e de saudade ao mesmo
tempo.
– Sabes porquê?
– Porque também eles têm sede de afeição e
têm sonhos megalómanos, como eu. E talvez sintam a vida rolar sobre si em
avalanches de matéria morta, mantendo-lhes recalcadas, talvez para sempre,
afeições e sonhos.
– Gostava que amasses muito também os teus
irmãos sábios segundo a ciência deste mundo…
– Então vem amá-los em mim, Mestre!
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