Quando finalmente o nosso coração se apaixona por Deus revelado em Jesus,
Ele passa a conduzir-nos através dos mais variados e estranhos processos,
surpreendendo-nos sempre e mantendo assim a nossa atenção presa a Si e o nosso coração
sempre por Ele fascinado.
23/7/96 – 2:00
– Conta a história da serpente, que viveste
ontem.
Resisti em escrever este pedido do Senhor,
porque a história da serpente é só o último episódio de um acontecimento
estranhíssimo e por isso duvidava se o Mestre quereria que ficasse aqui
registado. A história toda tem o seu início no dia 5 deste mês, quando acabei
por dar de comer àquele cão esfomeado que, segundo está escrito na coleira, se
chama “Snupi”. A partir daí nasceu instantaneamente uma profunda afeição entre
mim e o Snupi. Mas a minha afeição nasceu da dele. Isto é, foi a dedicação dele
que me venceu, a mim, que tinha uma certa repulsa por cães e em geral por todos
os animais domésticos! Espantosa é a sua inteligência: parece que entende tudo
o que lhe digo e obedece-me com total docilidade. É um animal grande e ainda
jovem e a sua vivacidade encanta-me: também eu lhe entendo já os desejos, que
manifesta por gemidos, ladrando, ou por atitudes e comportamentos próprios.
Assim, progressiva e rapidamente, se me tornou o Snupi a maior interrogação dos
últimos tempos. Em breve ficou claro para mim que o animal não foi aqui
abandonado por acaso e que se me tornou misterioso instrumento de Deus, a ponto
de eu às vezes parar e lhe perguntar assim, acariciando-o: “Quem és tu, meu
bichinho?”. Com ele, de facto, eu aprendi a amar todos os seres vivos de uma
forma nova. Com ele aprendi que nada do que Deus criou é impuro. E com ele
sobretudo me tem o Mestre guiado pelo labirinto da sensualidade ao encontro da
Verdade.
Que é, neste território, muito difícil de
encontrar. Porque este é, conforme o Mestre deixou já várias vezes escrito
nestas páginas, o verdadeiro feudo de Satanás, a caverna onde montou o seu
palácio, o antro donde comanda todo o processo de decomposição da vida. E aqui
se situa o episódio da serpente:
Numa volta com o Snupi pelo pequeno bosque
que fica atrás da minha casa, eu parara no meio de um tufo de verdura alta e aí
me pus a considerar até que ponto o Senhor queria que se fosse na partilha da
sensualidade com os outros seres humanos, com os outros seres vivos, com a
Natureza inteira. Era um momento importantíssimo nestas lições que o Mestre me
está dando. Se eu fosse pela perspectiva que se me estava abrindo, arrombaria o
último tabu em que envolvemos a sensualidade. Foi então que o Snupi começou a
olhar fixamente uma árvore alta, que se levantava mesmo junto de nós, como
acontece quando descobre algo de estranho. A seguir pôs-se a ladrar, sempre
olhando para a árvore. Intrigou-me aquilo: eu não via nada na árvore. Mas o
Snupi agitava-se cada vez mais: saltava, como querendo atingir qualquer coisa,
no alto. Só poderia ser qualquer bicho – pensei – uma lagartixa, por exemplo,
uma pequena cobra…. Uma cobra! E esta sugestão da cobra nunca mais me saía do
espírito. Mas eu olhava de todos os ângulos na direcção do olhar e dos saltos
do cão e não via nada: só o alto e esguio eucalipto, uma pequena hera, apenas,
à volta, a baixa altura. Entretanto o Snupi, cada vez mais agitado, rodeava a
árvore, saltava de novo, de outra posição, ladrava furiosamente. Então eu, não
confiando já na minha vista, peguei num pequeno pau para com ele esquadrinhar o
tronco e eventualmente espantar qualquer bicho que por ali estivesse
disfarçado, sei lá… Mas o pau era muito curto. Então descobri ali um outro,
muito mais comprido e grosso, sob a folhagem. Mal o levantei ao alto, o Snupi
atirou-se a ele, como se o quisesse devorar: mordia-o, ladrava… Um tremor me
percorreu todo e atirei-o ao chão. O Snupi então, de dentes arreganhados,
mordia-o em vários pontos. Reparei então que a grossa vara, com mais de dois
metros, tinha numa das extremidades uma parte mais larga e achatada,
assemelhando-se espantosamente à cabeça de uma serpente. Eu estava perplexo. E
mais perplexo fiquei quando o cão, a todas as minhas tentativas para pegar na
vara, mo impedia, atirando-se-me à mão e ladrando. E tentava arrastar dali o
pau. E deixou de ligar à árvore…
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