A partir do texto 1200, as mensagens são retiradas do sétimo
volume destes “Diálogos do Homem com o seu Deus no Tempo Novo”. Sempre tendo em
fundo o Deserto por nós fabricado, continua a revelação dos mais insuspeitados
Mistérios…
Durante muito tempo também eu fui levado na doutrina do bom senso, que
sempre falou numa luta entre a mente e o coração, as duas grandes forças do ser
humano, cada uma querendo sobrepor-se à outra. Jesus diz que não é assim.
15/7/96 – 1:47
– Mais uma vez, Mestre, se não fores Tu a
pegar na minha mão e a meter-me ao caminho, eu fico aqui tempos infinitos
parado, de mente e coração vazios.
– Que coisas são essas duas – a mente e o
coração?
– Não sei… costumamos dizer que a mente é
para pensar e o coração para sentir.
– O coração pode estar ausente, enquanto a
mente pensa?
– Pode. Cá para nós, pode.
– Qual dessas duas coisas está escrevendo
estas linhas?
– Até me parece que agora é mais a mente.
– E escreve porquê, a mente?
– Porque… Olha, Jesus: acho que a mente não
tem razão nenhuma para escrever. Se a mente mandasse, eu estaria na cama a
dormir.
– Quem a obriga então a estar escrevendo?
– Acho que és Tu.
– Não sou, não. Eu tenho uma irredutível
repugnância em obrigar alguém seja ao que for.
– Então só pode ser o coração.
– O coração obriga a mente a trabalhar
contra a sua vontade?
– A mente não tem vontade: é só um
instrumento.
– Ah, sim? Então como pode a mente estar
escrevendo sem o coração? Que instrumento é este que se desprende das mãos do
seu dono e actua sozinho?
– Não sei, Mestre. Mas no próprio diálogo
que está acontecendo ela parece estar a actuar sozinha. Não vês a frieza de
todas estas palavras? Que sentido tem todo este discurso tão árido?
– Quem te ditou estas últimas palavras?
– Agora foi o coração.
– Porquê?
– Porque me saíram com mágoa.
– Mágoa porquê?
– Por causa da aridez.
– Queres que a aridez desapareça?
– Pois quero. Para que serve a aridez?
– Para provocar…mágoa, não?
– Ah! Para acordar o coração?
– Talvez, não?
– Ah, Mestre, meu encantador Mestre, meu
inultrapassável Educador!Assim me conduziste de novo ao coração!
– E a mente, que é dela?
– Não sei. Mas se ela é aridez, eu
dispenso-a com muito gosto.
– Não seria bom, não vês? Perderias um
instrumento que se poderá tornar precioso.
– A mente é só um instrumento?
– Como a razão, o pensamento, a
inteligência… O que a Serpente fez com Eva e Adão em relação ao Criador, fê-lo
também com estas coisas em relação ao coração: tentou autonomizá-las em relação
ao coração.
– Tudo no ser humano deve estar sujeito ao
coração?
– Como tudo deve estar sujeito a Deus.
– Numa relação de amor?
– De amor só. Sem nenhuma sombra de
opressão.
– Como de amor são as relações entre os
vários órgãos de um corpo?
– Sim. Todo vivificado e alimentado pelo
mesmo sangue que lhe vem de uma única fonte.
– A Fonte é o Sopro da Vida?
– Sim. O vosso coração é Deus!
– Por isso nos ensinou o Demónio a
desconfiar dele?
– Sim. A eliminá-lo por completo, tantas
vezes!
– Foi assim que nos privou da Fonte do
Prazer puro?
– Foi assim, Salomão, foi assim! Por isso o
vosso prazer não se renova e é tão efémero…
– Jesus, diz-me então: o sexo tem muito mais
importância do que aquilo que nós julgamos, não tem?
– O que te levou a essa conclusão?
– É ainda só uma pergunta, Mestre. Mas
anda-me ela a alvoroçar o coração já há muito tempo… É por causa da função do
sexo. Ele está intimamente relacionado com a vida: é no sexo que estão
depositadas as sementes e é através dele que se lançam os fundamentos de novas
vidas. É dele que nos vem o mais agradável prazer físico, que outra coisa não é
senão a vida pululando dentro de nós e enchendo-nos até à flor da pele. E se mais
vasto e abrangente não é este prazer, é porque passamos o dia e todos os dias
da nossa vida exilados na Cidade. Vejamos: que prazer pode haver num corpo
encerrado nos seus vestidos, isolado, portanto, dos outros corpos? Que prazer
pode haver no caminhar calçado por ruas de pedra ou asfalto? Que partilha
sensual podemos ter com a vida, se vestidos caminhamos calçados por ruas de
cimento e sempre invariavelmente nos enfiamos, ao fim de cada rua, em casas
feitas de matéria morta, e donde sempre mais afastamos os seres vivos? E que
vibração sensual nos poderá percorrer o corpo, se vestidos, calçados, enfiados
em casas, em carros, passamos grande parte do dia, a totalidade do dia, por
vezes, no trabalho forçado que a Cidade nos impôs para alimentarmos o corpo e a
ambição?…. Olha, Jesus, até me esqueci de que estava a falar Contigo.
– Mas não Me esqueci Eu de te ouvir.
– E que dizes a isto, Mestre?
– Sentes assim? Veio-te tudo isso do
coração?
– Veio, Mestre, veio! Que saudades eu tenho
do Paraíso! Um coração inchado das pulsações robustas do Espírito num corpo nu
desfalecendo de felicidade sensual no meio do Verde!
Sem comentários:
Enviar um comentário